O Materiais Diversos é um festival de encontros que reúne, na mesma dimensão temporal e espacial, o fundamental e insubstituível o que, no actual mundo digital é desvalorizado.
Sem vocação para ser um evento de milhares de pessoas, nem para ter milhões de gostos no Facebook, é um acontecimento que decorre pelas serranias de Minde e Alcanena, virado para os amantes das artes performativas e para quem gosta do envolvimento corpo- a-corpo, no mesmo tempo e no mesmo lugar.
Na quarta-feira, a Associação Materiais Diversos apresentou o programa da nona edição do evento que, este ano, é inspirado no binómio Transacções/Transformações e realiza-se de 14 a 23 de Setembro em Minde, Alcanena e Cartaxo.
Este festival, cuja centralidade é uma periferia e que organiza conversas com o público, oficinas e residências artísticas e que este ano, reunirá seis dezenas de artistas em dez espectáculos.
Criadores como o bailarino de Leiria, Filipe Pereira, Teresa Silva, Rita Natálio, João dos Santos Martins ou Alessandro Sciarroni fazem parte do grupo de artistas convidados.
Mas há mais novidades. Rui Catalão e Emmanuelle Huynh irão orientar, em Minde, a Comunidade Artística Emergente constituída por jovens de todo o País, numa residência artística, o Festival Bons Sons participará com um concerto dos Osso Vaidoso, de Ana Deus e Alexandre Soares e três espectáculos de dança de Ana Jezabel & António Torres, Lander & Jonas e Carlota Lagido.
E, na vila do Ninhou, o coreógrafo marroquino Radouan Mriziga encenará um diálogo sobre dança e arquitectura.
Dança, coreografia, palavra
Os espectáculos de abertura e encerramento estão marcados para o cine-teatro de São Pedro, em Alcanena.
O primeiro chama-se Gatilho da Felicidade e é uma criação de Ana Borralho e João Galante construída a partir de uma residência artística com 12 jovens da região, entre os 18 e os 23 anos, seleccionados entre candidatos e participantes de oficinas, que a dupla de coreógrafos já iniciou em Maio e a quem foi levado o desafio de apresentarem questões que pretendem ver debatidas e respondidas entre os seus pares e o público.
O encerramento, levará, ao mesmo espaço, Marco da Silva Ferreira. O coreógrafo do Porto apresentará o seu espectáculo de dança Brother ao público, após já ter passado por Paris com ele.
O criador é conhecido por fazer pontes entre as danças urbanas e a dança contemporânea, com uma forte componente sonoplástica, física e energética. Ao longo dos dez dias do festival, haverá, diariamente, aulas destinadas a vários públicos de diferentes origens.
É o caso do Atlético Clube Alcanenense, do Grupo Folclórico do Cartaxo ou dos funcionários da fábrica Marsipel. Os mais jovens vão voltar a ter espectáculos específicos para si, depois de alguns anos em que isso não aconteceu.
Um dos palcos será o Centro de Ciência Viva do Alviela que recebe, no dia 17 de Setembro, domingo, e dia 18, segunda-feira, a mais recente criação de Margarida Mestre, Balada (das vinte meninas friorentas), recital de palavras, a partir de um poema de Matilde Rosa Araújo.
O encerramento do Materiais Diversos vai estar a cargo do Festival Bons Sons, com uma sessão de Noites Longas, de dia 23 para 24, a partir das 00 horas, no bar do Cine-teatro de São Pedro, em Minde.
Minde concentra programação mais diversificada
Mais perto de Leiria e da Alta Estremadura, em Minde, vai estar sediada a programação mais diversificada do programa deste ano do Materiais Diversos. A vila recebe pequenas e grandes peças, numa escala adequada à ideia de espaços não convencionais. O cine-teatro Rogério Venâncio voltará a ser utilizado, após um ano de ausência, na quinta-feira, dia 21 de Setembro, para a montagem de um espectáculo profissional, da autoria de Lígia Soares.
"É um dos momentos que mais se liga à provocação Transacções – Transformações. Se pensarmos que vivemos num mundo globalizado dominado pelo comércio, pela economia e pela problemática das migrações humanas, não deixa de ser curioso tentar perceber qual é o impacto numa escala mais pequena”, explica Elisabete Paiva, a directora artística do Materiais Diversos.
Que transacções se operam entre um festival profissional e um público que não tendo, em Minde, uma casa profissional de espectáculos com uma programação regular procurado a oferta cultural na restante região?
São "transacções" que estão presentes em vários espectáculos e no corpo-a-corpo entre o espectador e o artista. Lígia Soares serve-se de um texto muito crítico sobre a passividade com que, actualmente, se vive a relação interpessoal em sociedade.
A Fábrica da Cultura, em Minde, recebe dois espectáculos que a organização do Materiais Diversos acredita vão ser muito apreciados pelo público. Um deles, passa-se dentro da cabine de um camião TIR e relatanos as histórias de vida de camionistas profissionais, portugueses e estrangeiros, envolvidos no transporte de longo curso.
Este espectáculo que já "circulou" por várias salas de todo o País, vai "estacionar" no exterior da Fábrica da Cultura, para falar da vida destes homens e mulheres que fazem das estradas da Europa a sua casa.
Dentro da fábrica, vamos poder encontrar o coreógrafo marroquino Radouan Mriziga, que apresentará um diálogo sobre dança e arquitectura, cujo significado será reforçado pelo ambiente industrial do cenário fabril.
Performance
Festival minderico
O Festival Materiais Diversos nasceu em 2009, em Minde, pela mão do coreógrafo de Leiria, Tiago Guedes.
A partir do seu ninho minderico expandiu-se a outras localidades das regiões do Médio Tejo e Lezíria, onde se dedica a explorar a diversidade do território das artes performativas e do país.
Leva a populações e palcos fora dos grandes centros urbanos uma selecção cuidada de projectos artísticos nas áreas da dança, teatro e música, assinadas por jovens criadores e artistas consagrados, portugueses e estrangeiros.
Desde 2013 que é organizado pela Associação Cultural Materiais Diversos que incentiva a investigação e experimentação artísticas.