Em Fevereiro, Portugal festejou a bem festejar mais um título continental. Ano e meio depois do golo de Éder que valeu a conquista do Europeu de futebol, um grupo de 14 talentosos jogadores de futsal contornaram o favoritismo atribuído aos nossos vizinhos espanhóis e levaram mais uma bela taça para a sede da Federação Portuguesa de Futebol.
A história pareceu repetir-se. Só que em vez de ser o excepcional Cristiano Ronaldo a lesionar-se na final, foi o mágico Ricardinho que não pôde dar o contributo nos momentos decisivos da partida.
Muitos daqueles rapazes que fizeram história eram ilustres desconhecidos para comum português. Apenas o mago tinha – e tem – fama incontestável. Mas também havia o André Sousa, o João Matos, o Pedro Cary e o Bruno Coelho. O Bebé, o Vítor Hugo, o Fábio Cecílio e o André Coelho. O Márcio Moreira, o Pany Varela, o Tiago Brito e o… Tunha. É mesmo dele que vamos falar.
Garra e disponibilidade. Foram estas as características deste jogador que mais chamaram a atenção durante a competição que decorreu em Ljubljana. Não esteve muito tempo em campo durante o Europeu, é bem verdade, mas de falta de abnegação ninguém o pôde acusar.
Enquanto esteve em campo correu, correu e correu. Um altruísmo que quer pôr agora em campo ao serviço do… Burinhosa, naquele que será o quinto ano consecutivo do emblema na Liga SportZone, o escalão mais alto da modalidade em Portugal.
É verdade. O Tunha, o campeão europeu, vai jogar em 2018/19 na equipa orientada por Alex Pinto. O pivot, de 33 anos, decidiu transferir-se para o clube do pequeno lugar da freguesia de Pataias, cujo apreço à modalidade lhe valeu o epíteto de aldeia do futsal.
“Já no ano passado houve essa hipótese, mas decidi ficar em Lisboa, n'Os Belenenses. Este ano mostraram que me queriam ainda mais, senti essa vontade, e isso foi preponderante. Queremos estar onde mais nos querem, não é verdade?”
Mas há mais! O futsalista considera que a sua identidade “encaixa perfeitamente” na da equipa. “É muito agressiva e intensa, muito bem trabalhada pelo mister Alex Pinto. Por isso, não tinha razões para hesitar.”
O clube continua a crescer e esta temporada, além de Tunha, apostou na contratação de João Marçal, um nome histórico do futsal português, de 38 anos, [LER_MAIS] e no jovem talento esloveno Jovan Lazarevic, oriundo do Ekonomac e cujas qualidades têm deixado Tunha deslumbrado.
A estreia com a camisola azul do Burinhosa foi no passado sábado, em Ansião, frente ao Sporting. No domingo esteve em Leiria num torneio quadrangular com Benfica, Fundão e Leões de Porto Salvo. Entretanto já conheceu o grupo de trabalho e todas as (muitas) pessoas que gravitam em torno da equipa, seja no bar, no pavilhão, na cozinha…
Nas bancadas vibra-se com o jogo, sempre à procura de fazer a pequena aldeia competir de igual para igual com os gigantes do desporto nacional. Ali, naquele cantinho, vendem-se lugares cativos para a temporada e o tamanho da ambição é inversamente proporcional ao do pequeno lugar de não mais do que 500 habitantes.
“Existe sempre muito apoio, é algo que constatei enquanto adversário. O ambiente nos jogos é difícil, mas se perguntar aos jogadores da Liga onde gostam de jogar, todos vão dizer na Burinhosa. Aquele entusiasmo é contagiante.”
Tunha, como uma tia o baptizou assim que nasceu, ou Carlos Vasconcelos, como está escrito no cartão do cidadão, quer ver a sua nova equipa a mostrar-se “competitiva” em todas as provas em que participar, seja a Liga, a Taça de Portugal ou a Taça da Liga. O sonho é “ficar cada mais perto” dos gigantes que governam a modalidade.
Individualmente quer dominar a estrutura táctica definida por Alex Pinto o mais rapidamente possível. E depois, claro, trabalhar no duro para continuar a integrar a lista dos eleitos por Jorge Braz para representar o País. “É para isso que trabalho todos os dias”, faz questão de salientar.
Tunha, sobrinho de Carlos Alhinho, uma antiga glória do futebol português, está “feliz” com a opção que tomou. Sabe que vai passar algumas horas na estrada, porque continuará a ser professor de actividades extra-curriculares em Camarate, nos arredores de Lisboa.
Mas a família é prioridade absoluta e não quer ficar longe da esposa e da própria descendência: Lia, a mulher, e Alicia e Milene, as filhas. É um amor sem fim. Já bem bastam os estágios. No Europeu esteve 26 dias longe delas e custou-lhe horrores. De tal forma que é da letra inicial do nome de cada uma delas que surgiu o LAM que colocou nas costas da camisola com que se sagrou campeão europeu…