Depois de sucessivos adiamentos e de alguma polémica à mistura, foi, finalmente, conhecida a proposta vencedora do concurso de ideias para o Centro de Actividades Municipal de Leiria.
A divulgação do resultado aconteceu na última reunião de Câmara, realizada na terça-feira, onde o executivo aprovou o ajuste directo dos projectos ao arquitecto Pedro Cordeiro, vencedor do concurso.
Na ocasião foi também revelada a outra proposta apresentada, que acabou excluída por a entidade concorrente, a Central Projectos, ter quebrado o “anonimato” exigido, fazendo referência ao seu nome.
A proposta do gabinete de Pedro Cordeiro aponta para um “edifício o mais sustentável possível” – como referiu Sandra Macedo, arquitecta da Câmara – e que, ao mesmo tempo, responda às exigências do concurso: criar uma estrutura que permita acolher espectáculos com até 7.500 pessoas e a realização de congressos, de feiras temáticas e de eventos desportivos.
Assim, é proposta a criação de uma arena, com capacidade para até 4.000 lugares sentados e que pode chegar aos 7.500 na versão de concerto com plateia em pé, e de um ginásio.
Em termos de organização dos espaços interiores, além das várias valência técnicas, é sugerida uma cafetaria/snack bar com vista panorâmica, a instalar no primeiro piso, e de uma sala para crianças (regime babysitting).
Para a zona exterior, as soluções preconizadas pretendem envolver o pavilhão numa área verde e ajardinada que ocupará cerca de 12 mil metros quadrados, onde se incluiu uma praça de acesso às bilheteiras e às entradas principais do multiusos, com pavimento permeável.
Para fazer a ligação dessa zona à cidade, será criada uma alameda, com cerca de 100 metros de extensão, ao longo da qual se prevê a plantação de cerca de 300 árvores, entre freixos, tílias, loureiros e carvalhos. Está ainda prevista uma “grande rampa”, entre a rua 25 de Abril e o Arrabalde d' Aquém.
A proposta aponta ainda para uma cobertura em material translúcido, que permita a entrada de luz natural, e a reutilização de águas residuais para actividades que não exijam água potável.
[LER_MAIS] A escolha de betão branco natural para o revestimento do pavilhão insere-se também na estratégia de sustentabilidade da proposta. “Exige menos manutenção do que outros materiais”, referiu aquela técnica da Câmara, em resposta às dúvidas levantadas pelos vereadores da oposição em relação à opção pelo betão, que, no entender dos sociais-democratas, terá “um elevado impacto no local”.
“Isto é um concurso de ideias. O projecto base de arquitectura é para manter, mas haverá pontos que serão revistos sem desvirtuar a ideia base e o conceito da proposta”, sublinhou Rita Coutinho, vereadora do urbanismo.
Isso mesmo foi também admitido pelo presidente da Câmara, adiantando que a própria localização do edifício no espaço terá alguns ajustes, sem, contudo, “fugir” da área delimitada para a intervenção.
Esse reajuste, permitirá “melhorar a relação/orientação do edifício com o talude a sul e a zona envolvente da plataforma de estacionamento, dando mais consistência ao espaço público envolvente”, explica Pedro Cordeiro, autor da proposta.
O arquitecto frisa que, num concurso desta natureza, “o que se apresenta inicialmente é uma proposta que sintetiza os princípios do caderno de encargos, as necessidades funcionais, interpretação do local de intervenção e os nossos próprios princípios, enquanto intervenientes no espaço social da cidade”.
Pelo que, acrescenta Pedro Cordeiro, “é desejável que o projecto inicial siga o seu processo de aperfeiçoamento, algo que naturalmente decorrerá até ao final do projecto de execução”.
Vereadores do PSD votam contra
A aprovação do relatório do júri e da abertura do procedimento para o ajuste directo dos projectos por parte da Câmara contou com o voto contra dos vereadores do PSD. Entre as preocupações levantadas pelos eleitos da oposição está o custo da obra.
A proposta aponta para um investimento na ordem dos 12 milhões de euros, mas os sociais-democratas duvidam que esse valor seja suficiente para a executar.
“Não acredito que se consiga fazer uma obra desta natureza a menos de 1000 euros por metro quadrado [a proposta aponta para 600 euros]. Se o custo real for superior a 15 milhões de euros, qual será a decisão da Câmara?”, questionou Fernando Costa.
“Se ultrapassar em 5%, pode aceitar-se. Se for além disso, terá de ir abaixo”, respondeu o presidente da Câmara.
Entre as preocupações dos sociais- democratas está também a supressão dos cerca de 1170 lugares de estacionamento existentes no local, sendo apenas proposta a criação de 150 lugares na zona interior.
Os vereadores do PSD manifestam ainda reservas em relação “à dimensão da arena para jogos oficiais de algumas modalidades” e à opção apresentada para a cobertura (material translúcido em membrana EFTE) que, do ponto de vista acústico e de manutenção, “não parece a solução ideal”.
“Para um projecto de arquitectura destas dimensões, depressa e bem não há quem, ao qual temos de juntar o fazer barato, o que significa que é um projecto de difícil execução e que muito provavelmente ficará na 'gaveta'”, defenderam os sociais-democratas, que, pela voz de Ana Silveira, chegaram mesmo a sugerir a realização de um novo concurso para dar oportunidade ao aparecimento de mais propostas.
“Uma só ideia para um edifício de extrema importância para a cidade é muito redutor”, alegou a vereadora, para quem a deliberação do executivo deveria também explicar as razões dos sucessivos adiamentos”.
“Não vale a pena criar fantasmas. Houve interesse do executivo em ir ver outros pavilhões, para ver o que nos interessa e estudar pequenos ajustamento ao que foi proposto sem alterar a filosofia do concurso”, retorquiu Raul Castro.
No final da reunião, em declarações aos jornalistas, o presidente da Câmara referiu que a construção de um pavilhão é ambicionada “há anos”, recordando que já aquando do concurso internacional para a construção de um centro comercial na cidade, em 2005, houve propostas para um multiusos. Este era, aliás, uma das contrapartidas exigidas pela Câmara ao vencedor do concurso, que acabou por ser anulado.
Volumetria responde às “necessidades” de espaço interior
“O conceito/ideia do edifício é um resultado inequívoco de um programa funcional pré-estabelecido, da convivência com o morro do castelo, do estádio e da plataforma do actual estacionamento”, diz Pedro Cordeio, autor da proposta vencedora do concurso de ideias.
Natural de Leiria, onde coordena o atelierMube Arquitectura, o técnico refere ainda que a solução pretende também “potenciar a pedonalidade”, através de uma “grande” rampa entre a rua 25 de Abril e o Arrabalde d´Aquém, assim “como definir novos locais de estadia (públicos) associados às entradas do edifício como uma eventual extensão do mesmo”.
Relativamente à forma/volumetria, Pedro Cordeiro explica que a solução preconizada “é sobretudo uma consequência das necessidades do espaço interior, um espaço de arena e um ginásio”, o que teve “como resultado directo uma volumetria semelhante a uma grande tenda em cunha, disposta a estabelecer uma relação de proporcionalidade possível entre uma envolvente com escalas tão dispares”.
Licenciado em arquitectura pela Escola de Tecnologias Artísticas de Coimbra (1992-1997), Pedro Cordeiro é ainda mestre em Cultura Arquitectónica Contemporânea e Construção da Sociedade Moderna e doutorado em Territórios Contemporâneos Metropolitanos pelo Instituto Universitário de Lisboa (2011-2015).
Desde 2000 exerce actividade no atelier Mube Arquitectura, em Leiria, como arquitecto coordenador. Em 2009, foi um dos escolhidos pela Ordem dos Arquitectos para integrar a “Selecção Habitar Portugal 2006/ 2008”, com a obra Estação Central de Camionagem de Sever do Vouga, vila onde assinou também o projecto da biblioteca municipal, em co-autoria com António Oliveira.