Em Novembro deste ano, termina o prazo para o envio da candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura 2027. O documento (bidbook) está a ser preparado por cinco programadoras. A Paulo Lameiro, juntam-se duas Anas, uma Lígia, uma Elisabete e uma Teresa.
A equipa redactorial, integralmente feminina, foi apresentada publicamente, na sexta-feira, no Castelo de Leiria, no decorrer de uma sessão onde estiveram presentes representantes dos 26 concelhos da região que integram a Rede Cultura 2027 e os responsáveis pela candidatura.
A organização explica que, na escolha destas pessoas “a experiência curatorial foi valorizada, além da experiência de gestão de institutos e organizações autárquicas, abrangendo várias áreas que interessam à candidatura de Leiria, como o urbanismo e a [LER_MAIS]arquitectura, o espaço público, a curadoria e as artes contemporâneas, as bienais, a concepção e coordenação de grande projectos internacionais, a paisagem, o território e a sustentabilidade.
Sob o lema Raízes Comuns, horizontes conjuntos, a equipa que agora elaborará o texto final da candidatura “escutou os agentes, percorreu o território, percebeu e interpretou”, nas palavras do presidente do Conselho Estratégico da Rede Cultura 2027, João Bonifácio Serra.
Ana Bonifácio, 45 anos, é uma das “Anas”. Nascida em Leiria, é arquitecta com actividade na concepção e coordenação técnica de projectos de arquitectura, planeamento urbano e desenvolvimento do território. Tem experiência na elaboração de programas, planos, projectos e estudos, nacionais e internacionais, de âmbito territorial, estratégico e operacional, além de participar no projecto eMOTIONAL Cities: Mapping the cities through the senses of those who make them, 2021- (…), iniciativa seleccionada no âmbito do programa Horizonte 2020, UE (Innovative Actions for Improving Urban Health and Wellbeing – Addressing Environment, Climate and Socioeconomic Factors.
Entre outros trabalhos, fez parte da equipa técnica da Parque EXPO, e participou na requalificação urbana e ambiental em Leiria no âmbito do Programa Polis.
É da sua autoria o conceito de Sistema-Rio, adoptado por Leiria.
Ana Umbelino, 41 anos, é a segunda “Ana”. Natural de Caldas da Rainha, é a actual vice-presidente da Câmara de Torres Vedras e detém os pelouros da Cultura, Desenvolvimento Social, Património Cultural e Turismo.
É licenciada em Psicologia pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa e concluiu o mestrado em Ciências da Educação. Integrou os quadros da Agência de Desenvolvimento Regional do Oeste, onde se dedicou a projectos no domínio da educação e formação de adultos. Fez parte do Grupo Consultivo para a Integração das Comunidades Ciganas (CONCIG) e integra a Comissão Interministerial para a implementação e monitorização do Plano Nacional de Leitura.
É membro da Direcção da REVES – European Network of Cities and Regions for the Social Economy e do GECES da Comissão Europeia.
Seguindo a ordem alfabética, aparece Elisabete Paiva, 45 anos, licenciada em Teatro/Produção pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa. É mestre em Estudos de Teatro, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com a dissertação “Teatro para Crianças: do impulso de jogo ao desejo de ser espectador”.
É directora artística da “Materiais Diversos” desde 2015. Foi entre 2006 e 2014 responsável pelo Serviço Educativo de A Oficina, em Guimarães, primeiro no Centro Cultural Vila Flor e depois no Centro Internacional das Artes José de Guimarães.
Lígia Afonso é licenciada em História de Arte e mestre em Museologia e Património Cultural, além de doutorada em História da Arte. Aos 40 anos, é investigadora do Instituto de História da Arte (NOVA FCSH) na área de Museum and Exhibition Studies e docente da ESAD.CR – Escola Superior de Arte e Design e na Universidade Nova.
É membro da Associação Internacional de Críticos de Arte e foi assistente de curadoria da 29.ª Bienal de São Paulo, além de co-curadora de Cartas de São Paulo (São Paulo) e Histórias da presença portuguesa na Bienal de São Paulo (Porto).
Participou na Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura como responsável e coordenadora editorial do Laboratório de Curadoria.
Teresa Andersen, 64 anos, é formada em Engenharia Agronómica e conta com uma segunda licenciatura e um mestrado em Arquitectura Paisagista. É doutorada pela Universidade de Aveiro em Ciências do Ambiente. Foi presidente da Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas e chegou a dirigir o Instituto da Conservação da Natureza. Entre 2007 e 2009 esteve à frente do Parque da Fundação de Serralves e entre 2007 e 2014, foi directora do Jardim Botânico do Porto.
Participou ainda na elaboração da candidatura da Região Demarcada do Douro a Património Mundial da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Em Janeiro de 2020, foi a primeira pessoa a receber o prémio Gonçalo Ribeiro Telles para o Ambiente e Paisagem.
“Não somos apenas Leiria. Somos 30”
“Da mesma forma que a Europa não é apenas um Estado-membro – é antes os 27 em conjunto – não somos apenas Leiria. Somos 30. Vinte e seis municípios, dois politécnicos, uma associação empresarial e uma diocese que, na sua diversidade, emulam bem a diversidade europeia”, referiu o presidente da Câmara Municipal de Leiria, Gonçalo Lopes, durante a cerimónia, que teve ligações em directo a vários pontos da região, de norte a sul do território.
Pouco depois, numa mensagem vídeo, o presidente honorário da candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura 2027, o historiador José Mattoso, referiria que, quando ouviu falar, pela primeira vez na ideia da candidatura, perante o património construído da região, logo pensou “que estava no papo”.
No entanto, rapidamente percebeu que, afinal, uma “cidade da cultura é para criar um movimento que vai, em crescendo, que anime as pessoas, que lhes mostre o que é ser culto”. E ser culto, explicou, não é “só ir às bibliotecas e estudar as enciclopédias”. “Isso é uma cultura de uma elite.” A cultura deve ser de todos, das crianças e dos bebés, “é simplesmente viver, viver intensamente”.
Já o presidente do Conselho Estratégico da Rede Cultura 2027, João Bonifácio Serra salientou que a candidatura de Leiria é um tributo ao património comum, pois este tem “como sujeito o cidadão e revigora a cidadania. Porque garante a liberdade de transformar, que não resiste no caos nem desabrocha sob o autoritarismo mais ou menos iluminado”.
O responsável pegou numa ideia que já havia sido avançada por Gonçalo Lopes, e salientou que a região quer organizar a Capital Europeia da Cultura “para a Europa e com a Europa”, pois a “Europa é parte do património comum”.
O presidente da Câmara de Leiria deixou, por sua vez, uma mensagem marcada pelo pragmatismo, reforçando a ideia de que agora é tempo de acção.
“Desde há mais de dois anos que nos vemos ao espelho e aí contemplamos a Europa. Só nos resta agora fazer como a Alice e ter a audácia de atravessar esse mesmo espelho. Não para encontrar um país das maravilhas, mas antes para fazermos mais e melhor, um lugar cultural europeu para as gentes que somos. E isso, sim, é e será uma extraordinária maravilha.”