O fecho “sistemático” de serviços de urgência no Centro Hospitalar de Leiria (CHL), que se tem registado nos últimos meses, está a diminuir a capacidade de resposta dos bombeiros às emergências e a aumentar os tempos de socorro às ocorrências. Isto porque, são cada vez mais os serviços que as corporações têm de fazer para Coimbra ou Figueira da Foz, duplicando ou triplicando o tempo de cada serviço, retendo viaturas e equipas.
“Estamos a ser trucidados. É raro o dia em que não há serviços de urgência fechados em Leiria, obrigando a deslocações constantes a Coimbra ou à Figueira da Foz”, constata José Almeida Lopes, presidente da Direcção dos Bombeiros Voluntários de Leiria, que alerta para o “desgaste” que a situação acarreta para as equipas de emergência e para as viaturas. “Antes, uma situação resolvida em 30 ou 45 minutos, pode agora demorar quatro ou cinco horas. É esse o tempo que ficamos com as ambulâncias e as equipas indisponíveis”, denuncia.
Segundo o comandante dos Voluntários de Porto de Mós, Elísio Pereira, a situação “retira capacidade” de socorro às corporações. “Já juntámos duas ambulâncias em Coimbra. Tentamos ter sempre uma de reserva, mas os meios não esticam”, adverte, contado que, há quinze dias, estiveram “três ou quatro dias a verter praticamente só para Coimbra”.
“É um problema transversal a todas as corporações da região. Ainda anteontem [dia 25] o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] nos pediu para fazermos um serviço no limite do concelho de Leiria com Fátima, porque as corporações vizinhas não tinham viaturas disponíveis e nós também não”, relata Elísio Pereira, frisando que “quem sofre é o doente que fica mais tempo à espera de ambulância”.
Equipas e viaturas retidas
Também João Lavos, comandante dos Bombeiros de Vieira de Leiria, no concelho da Marinha Grande, confirma que os quilómetros percorridos aumentaram consideravelmente, desde que várias especialidades no Hospital de Santo André não estão a funcionar. “Demorámos muito mais tempo. Além de gastarmos mais combustível, temos as equipas mais tempo envolvidas nas ocorrências”, confessa.
Quando a ambulância arranca do quartel, o CODU já lhes deu a indicação para onde devem levar o doente. Muitas vezes, a viagem é para Pombal, Figueira da Foz ou Coimbra. “Quando vamos para Leiria demoramos em média uma hora e meia numa ocorrência. Ir para Coimbra significa que o serviço pode demorar três horas. É o tempo que vamos ter uma equipa empenhada nesta deslocação, indisponível para outras ocorrências que possam surgir”, constata João Lavos.
O comandante de Vieira de Leiria alerta que a capacidade de resposta da sua corporação para o concelho da Marinha Grande fica diminuída e, para evitar que se esgote na totalidade, na maioria dos casos, a ambulância de reserva não sai. “Por vezes, recusamos serviços para outros concelhos para não deixar a freguesia desprotegida”, confessa.
O mesmo problema têm enfrentado os Bombeiros Voluntários da Maceira, cujas cinco ambulâncias já estiveram todas fora do quartel. “A nossa capacidade de resposta diminui e afecta também quem necessita de socorro, pois obriga a que sejam activados corpos de bombeiros de mais longe”, adianta António Faustino.
O comandante da Maceira reconhece que um serviço que habitualmente demorava cerca de uma hora, agora pode ocupar o meio de socorro durante três horas. “Além de termos viagens mais longas, as macas e as ambulâncias ficam retidas durante mais tempo. Deixamos de conseguir fazer a reposição dos meios mais rapidamente como acontecia”, reconhece.
Situação “preocupante”
Para Rui Rocha, presidente da Federação dos Bombeiros do Distrito de Leiria, a situação “é preocupante”, pelo que, a organização já reuniu com o presidente do Conselho de Administração e a directora do Serviço de Urgência do CHL. “O que nos foi transmitido é que a situação está crítica, que se antevêem dias ainda mais complicados e que não há capacidade do CHL para resolver, por si só, os problemas existentes”, revela o dirigente, que alerta para a redução da capacidade de resposta das corporações às emergências.
“Fazer serviços para hospitais mais distantes representa transportes mais demorados, com custos acrescidas e equipas retidas durante mais tempo”, reforça Rui Rocha, frisando que, apesar de o pagamento do serviço contemplar os quilómetros efectuados, “há atrasos de meses” nessa liquidação.