Vacinar os grupos mais vulneráveis, proteger-se do frio e apostar no auto-cuidado são as principais recomendações da Unidade Local de Saúde da Região de Leiria (ULSRL) para enfrentar o Inverno. Acima de tudo, o principal pedido é: não vá ao serviço de urgência, a não ser que seja encaminhado pela linha Saúde 24 ou pelo seu médico de família.
É certo que a temperatura ainda está elevada e o frio ainda não chegou, mas tal como a formiga que amealha alimentos para o Inverno, a prevenção é o melhor remédio na saúde.
Denise Velho, directora clínica para os cuidados de saúde primários da ULSRL, defende que a população mais vulnerável esteja vacinada até Novembro, para poder enfrentar o pico das doenças respiratórias – habitualmente em Janeiro e Fevereiro – mais protegida.
A vacina é recomendada aos maiores de 60 anos. “No caso da vacina da gripe, pessoas de idade superior ou igual a 85 anos fazem a vacina Efluelda de dose elevada. Considero que a vacinação deva ser feita nas unidades. É um ex libris da enfermagem”, salienta Denise Velho.
A médica aponta ainda como elegíveis para a vacinação utentes com patologia e imunossupressão grave dos 6 meses aos 59 anos. Segundo explica ao JORNAL DE LEIRIA, os contextos diferem um pouco entre gripe e covid. A primeira inclui as casas de acolhimento.
“As grávidas estão também incluídas na vacinação gripe e covid, mas não está recomendada a coadministração”, avança.
Desde que a campanha de vacinação foi lançada, no final de Setembro, nos centros de saúde da ULSRL já foram imunizados 2.025 utentes com mais de 85 anos. Foram também vacinadas 2.960 pessoas com idades entre os 60 e os 84 anos, 234 com patologias elegíveis e 487 ao domicílio. Os dados não incluem a vacinação efectuada nas farmácias. Denise Velho concorda com os colegas que defendem que a imunização deveria ser estendida a toda a população, “se tal fosse possível”.
“As vacinas existem para prevenir as doenças”, reforça.
As crianças são também consideradas um grupo vulnerável, assim como os idosos, pessoas com doença cardíaca, com doença respiratória ou com o sistema imunitário deprimido.
“Esses grupos vulneráveis devem ter maior cuidado com o frio e protegerem-se. Se tiverem sintomas respiratórios, como febre ou tosse, devem ligar para a linha Saúde 24 para serem informados de como agir”, recomenda, alertando que os utentes devem ser honestos sobre os sintomas, de modo a serem explicados alguns autocuidados ou serem encaminhados para o centro de saúde ou urgência hospitalar.
Prioridade ao autocuidado
“A esmagadora maioria das situações tratam-se com autocuidados. Portanto, ter febre, não tomar um paracetamol e virem para a urgência ou mesmo para o centro de saúde, para os médicos verem que têm febre, é desnecessário. Não façam isso, nós acreditamos”, critica Denise Velho.
Dando prioridade ao autocuidado, a médica aconselha a ligar para a Linha Saúde 24 se os sintomas não passarem ou se agravarem. “Não venham directos para a urgência. Eles saberão encaminhar da melhor forma, sugerir outro tipo de autocuidados ou enviar para os cuidados de saúde primários”, insiste.
A directora clínica aconselha ainda a população a hidratar-se no Inverno – também é muito importante – e a alimentar-se devidamente, incluindo na sua ementa frutas e legumes, ricos em vitamina C. “E não esquecer que a higiene das mãos e a etiqueta respiratória é para manter. Se uma pessoa estiver com um sintoma respiratório deve usar máscara para proteger os outros. É uma questão de saúde pública.”
Quando está mais frio os agasalhos devem ser vestidos em camadas, para se poder retirar ou acrescentar, conforme a temperatura, e proteger as extremidades, como as mãos, os pés e a cabeça. Os quadros gripais, as infecções respiratórias superiores, as sinusites, as rinites são as patologias mais comuns, mas “nada disto carece de atendimento em hospital”.
Denise Velho reconhece que é “um drama na região os 100 mil utentes sem médico de família”, pelo que a ULSRL tem tentado encontrar diferentes estratégias para dar resposta à população. Além de recorrerem a prestadores de serviço e a médicos aposentados, no âmbito do projecto Bata Branca, foram criados atendimentos complementares, que dão resposta à situação aguda.
“Vamos ter de reconfigurar isto para conseguirmos dar resposta a esses utentes sem médico de família, mas também aos muitos migrantes em situação por regularizar e que ninguém sabe quantos são”, alerta.
O objectivo é, “o mais rápido possível”, encontrar uma solução, durante o horário de funcionamento das unidades, para as pessoas sem médico de família terem uma resposta, “por uma questão de equidade no acesso aos cuidados de saúde”, que poderá passar por disponibilizar um médico extra.
Denise Velho afiança que o plano de contingência para o Inverno está a ser preparado por um grupo multidisciplinar, que “pressupõe a monitorização de determinados indicadores”, que mostrarão a necessidade de aumentar a resposta consoante o número de casos respiratórios.
“Se subir, teremos de alargar a nossa oferta para os doentes agudos, ajustando a resposta ao nível dos cuidados de saúde primários e hospitalar.”
A directora clínica concretiza que essa resposta pode passar por aumentar o número de vagas nas consultas para situações agudas, reforçar a equipa ou alargar o horário de atendimento. “Vamos estar preparados para dar resposta. Mas, para conseguirmos aumentar a oferta, vamos ter de cortar noutros lados”, admite, exemplificando com a desmarcação as habituais consultas de vigilância, menos prioritárias.
Para as crianças que têm crises de falta de ar, nomeadamente as asmáticas, Denise Velho recomenda a utilização de câmaras expansoras em casa, que se compram na farmácia e cujo médico poderá ensinar a utilizar.
“Se a criança fizer o fluxograma direitinho e se ao fim de duas horas de estar a cumprir o esquema continuar com falta de ar, então aí deve ir ao serviço de urgência. Mas isto serão casos excepcionais, não a regra.”
Atendimentos Complementares
- Serviço de Atendimento Permanente da Marinha Grande
- Centros de saúde Arnaldo Sampaio e Gorjão Henriques, em Leiria, das 9 às 13 horas
- Centro de saúde de Porto de Mós, das 8 às 14 horas
- Centro de saúde da Nazaré, das 14 às 24 horas
- Centro de Saúde de Ourém, das 9 às 19 horas