Rodeada de familiares, amigos e admiradores, no concelho que a viu nascer e crescer. Foi desta forma que Vânia Silva, considerada a “melhor atleta portuguesa de sempre no lançamento do martelo”, colocou um ponto final na carreira com perto de três décadas. O adeus emocionado à competição foi dado no último domingo, durante a 15.ª Taça da Europa de Lançamentos, realizada em Leiria.
Foi a primeira leiriense a chegar aos Jogos Olímpicos, onde esteve presente em três edições, em Atenas (2004), Pequim (2008) e Londres (2012). Com uma carreira repleta de êxitos, marcou também presença em cinco Campeonatos do Mundo e três Europeus, tendo batido por 13 vezes o recorde de Portugal de lançamento do martelo e conquistado 21 títulos nacionais.
O início do percurso desportivo da atleta de 42 anos não começou no lançamento do martelo, mas sim nas corridas. Foi, aliás, quando tinha 14 anos e era atleta da Juventude Vidigalense que Paulo Reis – o seu treinador de sempre – a descobriu numa prova de corta-mato.
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Pouco tempo depois deu-se a despedida das corridas. “Comecei a perceber que já não me sentia motivada em correr e que queria deixar. Naquela altura o Paulo não me deixou desistir e disse que havia muito mais no atletismo além da corrida”, lembra Vânia Silva.
Certo é que experimentou o lançamento do martelo e não mais o largou. Assegurou a primeira internacionalização aos 18 anos, no Campeonato da Europa de Juniores, em França, em 1999. “Na altura, fiquei deslumbrada com a quantidade de equipamento que me deram”, recorda entre risos, realçando que representar Portugal “foi um orgulho enorme”.
Soma 51 internacionalizações e assegura que todas elas foram “especiais”. Um dos momentos mais marcantes da sua carreira foram os Campeonatos da Europa de sub-23, disputados em 2001, na Holanda, onde alcançou o 4.º lugar.
A medalha de prata conquistada na Taça da Europa de Lançamentos, em 2002, na Croácia, é também recordada com muito carinho. Mas muitos mais momentos podiam ser destacados na carreira da atleta que, em 2008, começou a vestir a camisola do Sporting.
Em 2021 bateu o recorde mundial do Martelão, no escalão F40, com a marca de 19,40 metros. Nessa época a atleta leiriense já era detentora do recorde mundial do escalão F35, com a marca de 19,27 metros.
Professora de Educação Física, durante 16 anos na Escola Profissional de Leiria e nos últimos dois em Ponte de Sor, Vânia Silva assegura não ter sentido dificuldades em conciliar a carreira desportiva com as aulas e a vida pessoal. Mesmo quando frequentava o ensino superior em Coimbra.
“Nunca fui muito de sair à noite e era fácil conciliar tudo. Quando estava em Coimbra, ou vinha treinar a Leiria ou o Paulo ia ter comigo. No fundo, a minha vida pessoal e a vida desportiva andaram sempre muito de mãos dadas”, refere.
De tal modo que muitas das suas amizades surgiram no meio desportivo, como é exemplo Maria José Conde, antiga lançadora de martelo. Recorda também Teresa Machado, o seu ídolo. “Tive a honra de poder estar em estágios e privar com ela, e absorvia tudo o que ela dizia”, refere.
“Senti que era o momento de terminar”
Após cerca de três décadas, a atleta leiriense sentiu que “era o momento de terminar”. Quando contou a Paulo Reis, o treinador sugeriu-lhe fechar o ciclo em Leiria, na Taça da Europa de Lançamentos, uma competição muito acarinhada pela atleta.
A lançadora de martelo despediu- se com um lançamento de 58,67 metros e um 13.º lugar, ainda que o mais importante não fosse o resultado.
Confessa que estava muito “nervosa e ansiosa” e, quando fez o último lançamento, não conseguiu conter as lágrimas, abraçada ao treinador e amigo. “Foi um momento muito emotivo. Não podia ter terminado de melhor forma. Foi espectacular sentir todo o carinho das pessoas.”
Sobre o futuro, refere estar a ponderar se participará ainda este ano em provas pelos veteranos, e apesar de “nunca dizer nunca”, ser treinadora é algo que, para já, não está nos planos da leiriense.
