“Ainda ontem, entrou uma vespa asiática pelo nosso serviço. Andou por aqui a inspeccionar e, depois, foi-se embora.”
O relato de Pedro Borges, coordenador municipal da Protecção Civil da Marinha Grande deixou de ser novidade para grande parte dos habitantes da região.
A vespa velutina, como o insecto também é conhecido, passou a fazer parte da nossa paisagem e a quantidade de avistamentos e de ninhos destruídos, bem como colmeias arrasadas, aumenta de ano para ano.
Na Marinha Grande, em Março, foram colocadas já 300 armadilhas para fazer face a esta invasora, às quais se juntaram mais 200, ao abrigo de um programa conjunto de combate à vespa criado pelos municípios da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL).
O objectivo, explica Pedro Borges, é a promoção de uma estraté- gia conjunta de identificação e combate à espécie. “Porque se trata de um problema que extravasa os limites dos concelhos.”
A vespa asiática tem causado a destruição de muitas colmeias na região, desde que se instalou. Quando sai da hibernação, em Fevereiro, procura mel, para ganhar forças e, pouco depois, começa a comer as próprias abelhas.
Além dos prejuízos para os apicultores, a acção destes animais cria problemas até para os agricultores e espécies da flora autóctone, ao impedir a polinização das flores pelas abelhas.
Para o ser humano, as autoridades consideram que representa um perigo potencial igual ao de outras espé- cies de vespa autóctone.
A maneira mais eficaz de combater esta espécie é através da colocação de armadilhas, em especial, no início da Primavera, para capturar as rainhas-fundadoras, pois esta vespa não reutiliza ninhos, e a partir de Setembro, para os machos.
Na Marinha Grande, em 2018, foram destruídos 14 vespeiros, em 2020, a Protecção Civil municipal destruiu 113 e colocou 200 armadilhas. No ano passado, foram já 208.
“Desde 2018, destruímos 405 ninhos e gastámos cerca de 60 mil euros. De ano para ano, destroem-se cada vez mais ninhos. Por aquilo que vemos no terreno, há mais vespas asiáticas na região”, diz Pedro Borges.
No concelho de Leiria, segundo o vereador com a pasta da Protecção Civil, Luís Lopes, o combate também se faz pela colocação de armadilhas e destruição de ninhos. “De 2019 a 2021, foram destruídos 2.708 ninhos.
O município encontra-se a preparar uma campanha de sensibilização e de informação para a população, com informação detalhada no site e no Facebook, distribuição de folhetos e realização de sessões nas freguesias.”
Segundo dados da autarquia, em 2019, foram destruídos 674 vespeiros e, em 2021, o número saltou para 1.334. Em Pombal, a vereadora Catarina Silva refere que estão a ser distribuídas armadilhas, no âmbito do plano de combate da CIMRL e que foi criada uma linha de apoio dada a incidência de casos. “Já colocámos 80 armadilhas em zonas urbanas da cidade e junto a IPSS.
Entretanto iremos colocar mais 650, no âmbito do trabalho da CIMRL”, dá nota. Em 2019, no concelho, foram identificados 543 vespeiros, número que subiu para os 862, em 2021.
Beatriz Pascoal, da Associação de Apicultores da Região de Leiria, entidade de âmbito nacional, que conta com cerca de 900 associados, reconhece que a progressão se faz de norte para sul e que o insecto já se está a estabelecer a sul de Lisboa, mas que o Algarve ainda não foi afectado, embora tenha sido detectado em alguns municípios do Alentejo.
“Na região, Leiria, Ribatejo e Oeste têm o maior número casos.” Bastaria ver a plataforma de referenciação geográfica do portal STOPVespa, do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, para perceber que mais de metade do território nacional foi já conquistado pela vespa asiática.
No mapa da região, fornecido pelo ICNF, os avistamentos confirmados cobrem a totalidade do Pinhal Interior Norte. Uma estreita faixa litoral, a sul da Figueira da Foz, passando pelos concelhos de Pombal, Leiria, Marinha Grande, Alcobaça e Nazaré apresenta-se ainda livre, tal como as zonas mais altas das Serras de Aire e Candeeiros e o centro do concelho de Caldas da Rainha.
No restante território, de modo geral, a vespa marca forte presença. Apicultores ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA pedem uma estratégia concertada a nível nacional, que seja liderada por um organismo, como o ICNF, de modo a que o combate seja realizado ao mesmo tempo em todos os municípios, pois, a seu ver, o modelo adoptado pelo Governo, que coloca nas mãos das Câmaras Municipais a actuação não serve.
Quebras de 20% na produção de mel
“As quebras de produção nos apicultores da região são já cerca de 20%”, revela Beatriz Pascoal. Os mais afectados são os pequenos produtores com apenas meia-dúzia de colmeias. Após um ataque, normalmente, ficam sem qualquer enxame.
“Há também um grande impacto na polinização, uma vez que há muitos pequenos produtores espalhados pelo País. Falar com eles, entre Julho e Novembro, é um drama. Estão em desespero”, conta a técnica.
Além das armadilhas, a Associação de Apicultores da Região de Leiria e o ICNF, no seu Plano de Acção para a Vigilância e Controlo da Vespa Velutina em Portugal, aconselham os apicultores a alimentar bem as abelhas e a reforçar os tratamentos, de modo a que os enxames estejam com a melhor saúde possível neste período, além, da colocação de barreiras físicas nas colmeias para impedir a entrada de vespas.
Segundo a associação o peso de um produtor difere de zona para zona do País. Na região, um apicultor com 200 colmeias é considerado um “grande produtor”, porém, no Algarve, os colmeais podem chegar a ter duas mil colmeias.
É difícil de imaginar o impacto da vespa asiá- tica se e quando lá chegar.
Vespa chegou em 2011
Todos os especialistas avisam que é preciso não confundir a vespa asiática, de patas amarelas, com a vespa crabro, de abdómen amarelo, que é autóctone e benigna. São semelhantes no tamanho, mas diferentes no resto.