Não é comum haver claques organizadas a apoiar clubes de pequena dimensão, que seguem a equipa para qualquer lado e que, independentemente dos resultados, fazem questão de mostrar que é na união que está a força.
Os Éguas Doidas são um exemplo raro da força e vitalidade que o futebol distrital mantém e, este mês, assinalaram seis anos de actividade contínua.
Todos os fins-de-semana, seguem a equipa principal do ARCUDA (Associação Recreativa Cultural e Desportiva de Albergaria dos Doze) e apoiam os jogadores em cada partida da 1.ª divisão distrital na série B.
Bandeiras, camisolas, tambores, cachecóis e a voz afinada, com cânticos ensaiados e coreografias que ajudam à animação, esta claque tem tudo o que é preciso para proporcionar um bom espectáculo a partir das bancadas, enquanto dentro das quatro linhas decorre a luta pelos três pontos.
Eduardo Vieira é um dos impulsionadores da claque, que tem visto a crescer ao longo dos anos. A primeira presença oficial dos Éguas Doidas (nome inspirado no local onde o ARCUDA está sediado – Vale da Égua) foi a 2 de Dezembro de 2018. “Na altura, éramos poucos”, lembra o adepto, satisfeito por estar integrado num grupo já com cerca de 50 pessoas.
“O objectivo é sempre crescer e que o clube também cresça connosco”, garante o apoiante. Apesar de ser difícil deslocar a comitiva inteira aos jogos, principalmente àqueles jogados fora, os Éguas Doidas são uma das claques mais assíduas na divisão distrital.
“Levamos o nome do ARCUDA mais longe. Não estamos a olhar muito para números e quantidade, gostamos é de fazer barulho. Há aquele núcleo que vai sempre, depois até as camadas jovens do ARCUDA se vão juntando.”
Encontro entre claques
A claque chega mais cedo ao recinto da partida para preparar a bancada e visitar o bar. O último jogo do ano foi especial, já que o clube de Albergaria dos Doze (concelho de Pombal) visitou o Caranguejeira, outra equipa que também tem uma claque presente em todos os encontros.
À primeira vista, duas claques de clubes adversários poderão não ter nada comum, mas o cenário não podia ser mais diferente. À entrada do bar, membros dos Éguas Doidas esboçam um sorriso quando encontram os Caranga Boys. Fora das quatro linhas, não há espaço para conflitos. Todos se conhecem e partilham o mesmo sentimento: a paixão pelo futebol distrital.
Entre as cervejas do aquecimento, Leandro Lopes resume aquelas cerca de duas horas passadas à beira de um campo de futebol. “Estamos cá para nos divertirmos. Durante os 90 minutos, cada um canta para seu lado, mas quando acaba o jogo, estamos todos para o mesmo, sem maldade nenhuma. Estamos aqui a beber e a conviver, é o que nos dá felicidade à vida. Jogar com o ARCUDA é sempre uma diversão”, refere o membro dos Caranga Boys.
Embora com menos expressão, esta claque também não falha um jogo. Com seis ou sete cânticos definidos, fazem a festa ao longo de 90 minutos, especialmente se a equipa estiver em baixo. “Se notarmos que a equipa precisa de nós, cantamos uma música mais animada, com mais ritmo e batucadas de tambores, para puxar a malta para cima.”
No dia em que estas duas equipas se encontraram, a 15 de Dezembro, o resultado sorriu à equipa da casa, que venceu o ARCUDA pela margem mínima.
Ambos os conjuntos lutam para escalar até aos lugares cimeiros da tabela classificativa e, curiosamente, partilham a mesma pontuação. O Caranguejeira e o ARCUDA vão chegar a 2025 com 13 pontos, quatro jogos vencidos, um empate, três derrotas, 13 golos marcados e oito golos sofridos. Qual é o factor que desempata estas duas equipas? O resultado do jogo entre elas e, por isso, o Caranguejeira está em 3.º lugar, logo à frente do ARCUDA.
Os Éguas Doidas levam a sua motivação além das bancadas. Esta é também uma força viva que pretende dar melhores condições ao clube que apoia e, a cada ano, propõe-se a adquirir material destinado a servir, principalmente, as camadas jovens.
Esta época, com os eventos dinamizados, pretendem adquirir um carrinho de ajuda ao transporte do material, desde a arrecadação até ao relvado.
Seja a jogar em casa ou fora, os Éguas Doidas procuram fomentar o fair-play e participar no espectáculo que é o futebol distrital. Só lamentam o facto de serem uma ‘espécie rara’.
“A concorrência não é muita, gostávamos que houvesse mais, porque o principal objectivo de mobilizar esta gente toda é valorizar o futebol distrital. Dentro do amadorismo, também podemos ser profissionais. Se os outros clubes também se juntassem – porque têm pessoas como nós, somos de Albergaria, um meio pequeno – acho que o futebol distrital ficava a ganhar”, considera Eduardo Vieira.