Qual foi o segredo para a sua vitória para a presidência da Câmara de Caldas da Rainha? Foi o reconhecimento do seu envolvimento com a população, com as associações e o trabalho comunitário, enquanto presidente da União de Freguesias de Caldas da Rainha?
Criámos uma candidatura a quatro anos, com sementes para o futuro. No final, após uma autocrítica ao nosso trabalho e se ela for positiva, poderemos pensar em recandidatar-nos. A vitória, penso, foi o reconhecimento do nosso trabalho e de todo um percurso de vida que desenvolvemos na cidade em prol dos cidadãos, a ouvir e a falar com todos. Eu e o António Curado demorámos um ano a maturar a candidatura. Reconheço nele integridade e cidadania. Depois, convidámos pessoas de acordo com as áreas. Por exemplo, para o Ambiente, convidámos Maria de Jesus Fernandes, bastonária da Ordem dos Biólogos, que é de Caldas e foi directora do ICNF Lisboa e Vale do Tejo, durante 12 anos…
Os movimentos independentes ganharam mais força devido à proximidade com os cidadãos, e por não estarem ligados a partidos?
Os partidos são fundamentais para a nossa democracia. O facto de aparecerem partidos populistas e muitos movimentos independentes – 19 câmaras independentes (6%) e 430 freguesias (13%) são de movimentos independentes – deveria fazer os partidos pensarem. Têm de fazer uma introspecção sobre o caminho que estão a seguir. Na campanha, dizíamos que, nós, os independentes, só temos de prestar contas ao eleitorado, enquanto os partidos têm ainda de o fazer a cúpulas concelhias, distritais e nacionais. Por vezes, os interesses das cúpulas partidárias são superiores aos das populações. Muitas das pessoas que estão nos movimentos, interessam-se pelas causas públicas, mas não se revêem nos partidos… no nosso movimento, temos pessoas que vão do espectro político do PCP ao CDS. No Parlamento, seria impensável ter uma estrutura assim. Numa autarquia? Não traz problema algum! Há que aproveitar o que é bom dos dois mundos. O nosso nome é Vamos Mudar, mas não vamos mudar tudo. Não vamos mudar o que está bem feito, mas devemos aprimorar, porque as coisas que, hoje, são boas, podem perder o efeito se não se melhorem. Fazer sempre igual não vai dar o mesmo bom resultado.
Dias após ter iniciado o mandato, reuniu com a ministra da Saúde e reivindicou o novo hospital central no Oeste, para Caldas da Rainha.
Não foi exactamente assim… vou esclarecer. Nos últimos oito anos, enquanto autarca e representante na Assembleia Municipal, fiz parte de uma comissão da saúde, composta por pessoas dos vários partidos e liderada por Lalanda Ribeiro, que, durante sete anos, abordou os partidos, secretários de Estado e a ARS, e eu ganhei conhecimento sobre os problemas do sector. Na nossa campanha, dissemos que, entre as primeiras coisas que pretendíamos era uma audiência com a ministra da Saúde. Marcámo-la e, surpreendentemente, passados 15 dias, ligaram a dizer que havia a possibilidade de uma audiência. Fomos lá falar da saúde no nosso concelho, do ACeS, dos centros de saúde – temos cerca de 12 mil utentes, em 50 mil, que não têm médico de família – e há freguesias onde os postos de atendimento não têm médico. Falá- mos em ser parte da solução na requalificação do centro de saúde antigo. Reivindicámos, ainda, melhorias para Torres Novas, Peniche e Caldas. Este mês, aqui, nas Caldas, teremos a abertura do espaço novo de urgências, que foi requalificado, mas, desde o primeiro momento que eu e outros colegas dizemos que, embora fosse muito importante termos condições e espaço, a coisa ficou curta. Porque, após serem atendidas, as pessoas vão para casa porque não há possibilidade de internamento. Além das obras na urgência era necessária a amplia- ção e requalificação do internamento. As novas urgências vão servir para que, eventualmente, haja mais doentes nos corredores, que agora são mais largos. No dia em que fomos falar com a ministra, visitei a urgência e havia lá 64 pessoas, num espaço preparado para 24. Nem os técnicos, nem os enfermeiros têm condições de trabalho. O hospital de Caldas não tem sequer uma farmácia a funcionar condignamente. Por exemplo, os tratamentos citotóxicos ao cancro, dos doentes de Caldas e Torres, são feitos em Lisboa. O custo que isso traz é muito maior do que se tivessem feito obras de melhoria, para não falar daquilo que custa aos doentes, que têm de fazer análises prévias antes do tratamento. As pessoas da nossa zona vão um dia ao hospital a Lisboa, para as análises, e regressam no dia seguinte para o tratamento. São pessoas debilitadas, que têm de ser acompanhadas por familiares que não vão trabalhar…. Anda-se há anos para fazer a ampliação e já se pagou mais de três milhões de euros de aluguer de contentores, quando se poderia ter usado a verba para fazer uma obra significativa. Também aproveitámos para falar do hospital termal e da necessidade de o Estado continuar a apoiar os tratamentos termais e para que, na formação dos médicos, haja disciplinas de termalismo.
E o novo hospital?
Foi o quarto assunto tratado com a ministra. Reafirmámos aquilo que os autarcas da CIMOeste dizem: tem de haver um hospital novo, que satisfaça as necessidades dos nossos 300 mil habitantes. Neste momento, está a ser feito um estudo na CIM. Na reunião, dissemos à senhora ministra que entendemos que a decisão não pode passar por os municípios se entenderem ou não. O Estado é soberano e não pode descartar a responsabilidade porque não há consenso nas câmaras. Há 20 anos que precisamos de um hospital e nada foi feito. Também sublinhei que é importante que se tenha em conta, neste ou noutros estudos, outros factores relevantes, não invalidando qualquer decisão que os 12 municípios da CIM possam tomar.
Quais são os factores?
Se o estudo for apenas para um hospital para satisfazer as necessidades actuais do Centro Hospitalar do Oeste (CHO), é uma coisa…. Mas nós fomos mais longe. Há que perceber se nesta região de abrangência do CHO e regiões envolventes está tudo bem. Se estiver, faça-se o estudo apenas na região do CHO, mas o que ouvimos diariamente é que Leiria e Santarém já não têm capacidade para dar todo o apoio. É preciso que o novo hospital do Oeste contemple um apoio às franjas de Santarém e Leiria, que possam não estar a ser servidas. Foi um alerta que pusemos na mesa e é legítimo fazê-lo. Outro foi sobre a requalificação da linha do Oeste. O novo hospital deve ser servido pela linha férrea. Deve ser implantado onde possa ter uma estação que o sirva, entre Torres Vedras e Alcobaça. Enunciámos um local, na fronteira dos concelhos de Caldas e Óbidos, que, entendemos, ser indicado. Não tenho uma agenda política, queremos o melhor para a região e faremos o máximo de parcerias com os municípios à nossa volta. É por isso que apoiamos o Geoparque da Lourinhã ou apoiamos a Capital da Cultura 2027, em Leiria.
Vítor Marques, natural de Caldas da Rainha, concelho onde nasceu há 56 anos, nunca tirou os olhos do Parque D. Carlos I, à excepção dos 17 meses, onde cumpriu o serviço militar, na Escola Prática de Administração Militar.
Foi nessa empresa que Vítor Marques ingressou aos 21 anos. Hoje, o negócio, tem 40 colaboradores, mais uma empresa de vending, e faz a distribuição de outras marcas, alargando a área de actuação para mais 12 concelhos, do Oeste e Ribatejo.
“É uma empresa familiar onde trabalham os meus filhos e a minha esposa. E eu, com a eleição para presidente da Câmara de Caldas da Rainha, desde o dia 11 de Outubro, tirei uma licença”.
Sempre se interessou pela comunidade e colaborou com o movimento associativo. Aos 11 anos, juntou-se ao Movimento Voluntário Desportivo, que, hoje, é uma potência no badmington nacional. Em 1978, participou na sua primeira candidatura, à associação de estudantes.
“Concorremos e perdemos”. Aos 30 anos, regressou às lides associativas e fez parte de duas direcções da Associação Comercial dos Concelhos de Caldas da Rainha e Óbidos. E voltou ao desporto. Porque um dos filhos jogava no Caldas Sport Clube, começou a ajudar e, quando deu por si, era presidente do clube, num período difícil.
Oito anos depois, já com o clube consolidado, foi convidado para uma lista que se iria candidatar à União das Freguesias de Caldas da Rainha e aceitou.
“Quando me apercebi, queriam que fosse o presidente. Nunca idealizei ser político. Aceitei e liderei uma equipa fantástica durante dois mandatos. Começámos com 300 e poucos mil euros de orçamento e seis pessoas. Acabámos com mais de um milhão de euros e 20 pessoas no quadro”.
E a requalificação da linha do Oeste, no troço entre Caldas e Leiria? A linha poderia ser usada como espinha dorsal para o desenvolvimento da região?
Claro que sim. Já reunimos com a Infraestruturas de Portugal (IP) para tratar de vários assuntos e um deles foi a requalificação da linha. Para norte da cidade, terão de ser suprimidas seis passagens de nível. Já avisámos a CIM que aquilo que a IP está a ponderar fazer para [LER_MAIS]norte é o mesmo que se fez entre Caldas e Lisboa: a electrifica- ção da linha, mas manter apenas uma via. É redutor! Compreendo que, para sul, devido à orografia, seja mais difícil e oneroso, mas para norte, é muito mais fácil. Temo que não haja essa ambição. De Caldas para Lisboa, poder-se-ia ter eliminado várias curvas e ganhado dez minutos de viagem, já que não se fizeram as duas vias.
Esbarramos na incapacidade de criar grupos de pressão unidos?
Poderíamos e deveríamos apoiar metas estratégicas. No entanto, temos de perceber que a divisão administrativa do País não ajuda a ter causas comuns na mesma região. Os municípios do sul do distrito de Leiria, estão numa CIM que é do Oeste, a Justiça e Educação já respondem a outro território, a Saúde está dividida em dois territórios. Em Caldas, temos duas CCDR. Isto é complexo e espartilhado. As pessoas de Leiria dizem que Caldas está bem. Está perto de Lisboa e do mar… mas administrativamente, Caldas da Rainha está na periferia de tudo! O próximo passo é transformar a Protecção Civil distrital em regional, tendo as CIM como região. Entretanto vai ser criada uma nova NUTT, com o Oeste e Ribatejo. Há muito caminho para fazer… e projectos comuns. Neste momento, estamos a avaliar propor a Óbidos, na revisão do PDM, criar uma área empresarial numa zona de fronteira entre os concelhos. Também iremos falar sobre sinergias com Peniche e com Alcobaça e outros municípios.
Na Câmara Municipal, optou pela procura de objectivos comuns, como preconiza na relação entre concelhos. Que frutos espera recolher da relação com a oposição?
Criámos a nossa equipa com pessoas com conhecimentos nas várias áreas. O nosso ADN é de falar e ouvir toda a gente. Estamos na fase de preparação do Orçamento e vamos enviar a nossa proposta ao PSD e PS para a discutirmos e também o faremos com as quatro forças políticas que se candidataram e que não conseguiram mandatos na Assembleia Municipal. O PCP e o CDS que, pela primeira vez desde o 25 de Abril, não elegeram ninguém, o Chega e o Bloco de Esquerda. Mas têm eleitores e um peso relevante. Vamos ouvi-los e avaliar se conseguiremos integrar algumas sugestões. Não temos maioria, porque temos um cenário de 3+3+1 vereadores, mas não me choca porque procuramos consensos. Falámos com o PSD, que preferiu ser uma oposição dialogante e cooperante, e com o PS, que nos deu uma janela de entendimento… aliás, nos sete programas eleitorais há 75% de semelhanças. O que muda é a forma de chegar aos mesmos objectivos.