Há 121 anos, antes da internet, da televisão e até das primeira emissões regulares da rádio, Leiria foi notícia do outro lado do mundo, na Austrália. No dia 7 de Maio de 1902, o jornal Warwick Examiner And Times, publicado no estado de Queensland, partilhou com os leitores um texto sobre a inundação provocada pelo rio Lis, que encheu acima das margens e cobriu a cidade com dois metros de altura de água. A informação consta no novo livro de Ricardo Charters-d’Azevedo, onde, na página 104, numa nota de rodapé, pode ler-se: “Todas as deslocações tiveram de ser feitas de barco e praticamente todas as casas foram inundadas”.
Vozes Sobre o Passado – Cronistas e Historiadores na Construção da Identidade de Leiria, com edição da Hora de Ler, é apresentado este sábado, 28 de Outubro, pelas 15:30 horas, com sessão a cargo de António Moreira de Figueiredo, no edifício da Fundação da Caixa Agrícola de Leiria, ao Terreiro.
Focado no desenvolvimento urbanístico, o livro de Ricardo Charters-d’Azevedo reúne imagens de diferentes períodos, em que se destacam, por exemplo, na página 153, duas perspectivas do Castelo, antes e depois da reconstrução a partir do projecto de Ernesto Korrodi. “Era um amontoado de pedras”, assinala o autor. Outra fotografia impactante é a que se encontra na página 165: o edifício da Câmara Municipal de Leiria na chamada estrada para a Barreira, antes da ampliação do Largo da República, da criação do Palácio da Justiça e da abertura da Avenida Marquês de Pombal.
A obra, segundo Ricardo Charters-d’Azevedo, não apresenta informação nova, mas recupera, para a superfície, dados, provavelmente, já esquecidos na roda do tempo. “Não fiz investigação própria, original, fui buscar o que outros tinham feito”. E aponta: “É preciso escrever uma História de Leiria”, porque “terra sem História escrita é árvore sem raízes”.
Além de notar edifícios emblemáticos já desaparecidos, como o palácio dos marqueses de Vila Real, Vozes Sobre o Passado responde perante dois objectivos estabelecidos previamente por Ricardo Charters d’Azevedo: identificar os cronistas e historiadores que têm “falado”, ou “falam”, sobre Leiria, mas, também, usar os respectivos textos para uma apresentação da identidade de Leiria e, por outro lado, do desenvolvimento morfológico e urbanístico do território desde a antiguidade, e, em particular, depois de tomado por D. Afonso Henriques no século XII.
Dois documentos sobressaem: O Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria, que se julga escrito, originalmente, na primeira metade do século XVII; e a Planta de Leiria levantada pelo major Joaquim Brandão de Sousa, em 1816.