O que sabe de stand up paddel já chega para escapar de uma ilha deserta?
Já sei o suficiente, desde que a ilha não esteja rodeada de tubarões e afins. O cargo que ocupo também ajuda a melhorar o equilíbrio face a muito treino que estes quatros anos e alguns meses têm exigido.
É um político radical?
Sim, a onda da Praia do Norte e a onda da dívida que encontrei na Câmara fazem de mim um político super radical, com boa dose de loucura associada como elementos fundamentais para o exercício do cargo.
Na política as manobras arriscadas compensam?
Como não as pratico, não o sei dizer.
Um autarca tem que surfar qualquer maré?
Um autarca tem de ter a capacidade de remar e surfar todas as ondas que lhe surjam, sejam as do sucesso global da Nazaré por via de uma grande promoção internacional ou as de uma onda de dívida “herdada” para a qual é necessário descobrir novos skills para surfar.
Até onde pode ir a Nazaré na onda do surf?
A Nazaré já está no topo do surf, o trabalho para lá chegarmos tem sido enorme e teve um momento fundamental quando consegui que a World Surf League organizasse connosco o evento Nazaré Challengedo Big Wave Tour, garantindo assim um reconhecimento global da parte da “ FIFA” do surf. Agora a Nazaré só tem de se manter inteligentemente nesse topo.
A melhor recordação dos tempos do andebol?
Vários títulos distritais, três títulos universitários de Lisboa e dois filhos a jogar este desporto. Acima de tudo o andebol foi uma grande escola de formação no trabalho de equipa e da superação individual.
Trocava a presidência do Município por uma carreira no desporto?
Não, julgo que tenho mais jeito para a presidência, ainda que no andebol fosse um trabalhador imenso com algumjeito. Nesse aspecto os meus filhos Tomás e Beatriz têm muito mais jeito do que o pai e acredito que possam ter carreiras muito bem sucedidas.
Qual era a sua melhor característica enquanto atleta?
Raça pexina, grande entrega e capacidade de luta e de trabalho.
Sempre com fair-play ou o fair-play é mesmo uma treta?
Sou muito competitivo, mas sempre com fair play.
Por falar em limpinho, limpinho, também costuma pedir bilhetes para o Estádio da Luz?
Não preciso, desde há vários anos tenho dois lugares cativos no Estádio, um meu, outro do meu filho. Habitualmente faço o contrário, quando não posso ir aos jogos, cedo os dois lugares a vários amigos, até do Sporting e do Porto.
A maior loucura que já fez pelo Benfica?
Ir ao Marquês em dia de bi, tri e tetra campeonato. No penta não me apanham lá. A isso adiciono duas saídas internacionais, uma a Munique e outra a Moscovo, que foram duas verdadeiras loucuras, tal a logística necessária.
[LER_MAIS]
O que aprendeu na indústria farmacêutica e aplica na autarquia?
Objectivos claros, planeamento, focus permanente, gestão de audiências e de expectativas próprias e de outros, gestão de crise e gestão de orçamentos e investimentos. A companhia farmacêutica americana para quem trabalhei 20 anos deu-me um constante desafio e uma formação permanente em áreas que iam das vendas e marketing à inteligência emocional que se tornaram armas que uso diariamente na câmara e na vida pessoal.
Que vacinas são indispensáveis para quem chega a presidente de Câmara?
Em algumas situações a vacina da paciência. As vacinas da resistência, da resiliência, da boa disposição e do ânimo total (ou anti-desânimo) já nasci com elas.
Uma cidade que o inspira na gestão do concelho?
Lisboa, Bilbao, Londres e Nova Iorque, todas elas referências na gestão do espaço público, da requalificação urbana e da promoção turística.
Quando viaja: lojas ou museus?
Já conheci nas minhas viagens o Guggenheim de Bilbao, o MOMA de Nova Iorque, o Museu de História Natural ou o British Museum de Londres e o Rijksmuseum de Amsterdão, mas as lojas também são importantes, em particular para as prendas familiares.
Já alguma vez investigou as origens do apelido Chicharro?
Já descobri mais de 300 anos de família Chicharro na Nazaré. Provavelmente teria um antepassado pescador que apanhava muito Chicharro e que a alcunha tenha passado a nome.
Dão-lhe uma cana e não o ensinam a pescar. Desenrasca-se?
Claro que sim, a necessidade aguça o engenho e o desenrascanço português é um activo incontornável.
E na cozinha, faz magia?
Faço magia a comer e a escolher vinhos. Sou um bom prato que come de tudo (excepto favas, lampreia e coelho) e adoro escolher e provar bons vinhos. Recentemente adquiri um refrigerador de vinhos pois o vinho perdia-se por incontáveis armários.
Uma característica que define os nazarenos?
Uma alegre determinação (os nazarenos são um povo extremamente lutador, com capacidade de sofrimento, determinado, em que a boa disposição é um facto). Saímos de uma época incontornável para os nazarenos, o Carnaval, onde afirmamos essa condição de foliões alegres até como forma de desligar da luta constante em termos de trabalho.
Se amanhã deixar a Câmara da Nazaré, qual é a sua última decisão?
Deixar o futuro da Nazaré preparado e bem entregue. A título pessoal, apenas e só, na total abrangência do termo, ser feliz. Todo o trabalho que desenvolvi no primeiro mandato, e que quero desenvolver no mandato em curso, e, espero, no terceiro mandato, sempre visou a transformação social e económica do concelho da Nazaré. A Nazaré hoje está bem melhor do que quando a recebi.
Naturalidade: Angola
Residência: Nazaré
Formação: Gestão e Administração Autárquica
Ocupação: Presidente da Câmara Municipal da Nazaré