Iniciaram o vosso processo de internacionalização, em 1996, no Brasil. A intenção era crescer, com a entrada num país que tem hoje mais de 204 milhões de habitantes, ou procurar alternativas ao mercado português que estava a entrar em crise?
Sim. Na altura, estávamos a participar nas obras da Expo 98. Prevíamos que essa seria a última grande obra e que, a partir daí, a importância do sector ia decrescer. Era preciso procurar novas geografias. E pensa-se logo nos países com a mesma língua. O nosso primeiro negócio no Brasil foi ligado às máquinas da construção e, daí, fomos para a construção. A maior parte das empresas deste sector tinha falido.
Em S. Salvador da Baía, uma delas tinha deixado muita gente sem dinheiro e sem apartamentos. Quisemos provar que podiam confiar em nós. Concluímos os apartamentos e ganhámos uma boa reputação. A partir desta experiência, fizemos a primeira abordagem à Venezuela.
Quais os critérios de escolha dos países no âmbito da vossa estratégia de internacionalização?
No Brasil, foi a proximidade pela língua e pela cultura. A partir daí, criámos uma ficha de análise do mercado, onde identificamos o potencial de crescimento nas construções, nas infraestruturas, o nível de endividamento dos países face ao PIB, o nível de risco percepcionado pelas companhias de rating internacionais.
O sector da construção é muito aquilo que são as necessidades de infraestruturas. Há dois caminhos: ou se vai para mercados maduros, com uma concorrência muito intensa e com margens mais esmagadas, mas sem riscos de recebimento, sem grandes riscos políticos e com estabilidade económica e social.
A outra opção é olhar para os mercados que têm muita necessidade de infraestruturas, com um potencial de crescimento enorme e onde a concorrência não está. São os países que têm maior risco, mas onde há maior margem. Nós, e a generalidade dos construtores, em 2008, já estávamos em Angola, Argélia, Moçambique, Roménia, Bulgária. Países cujo financiamento das infraestruturas dependia da venda do petróleo.
Acrescentámos, em 2011, a Venezuela, onde o seu principal produto exportador também era o petróleo. Até Setembro de 2014, este era o posicionamento correcto. A partir daí, o preço do petróleo passa de 120 para 30 dólares. Os países onde nós estávamos deixaram de poder pagar.
Tiveram de olhar para outros mercados.
Os nossos critérios de internacionalização tiveram de mudar, para nos adaptarmos às circunstâncias. Procurámos países mais maduros e menos dependentes do petróleo. Estamos a fazer abordagens a outros países, como o Koweit, o país com as maiores reservas de petróleo de mundo.
Entre pré-qualificações e concursos feitos temos mais de um bilião de obras concorridas e estamos à espera de fechar um contratoimportante. Inglaterra está a fervilhar: construções imobiliárias, centrais nucleares, obras rodoviárias. Inglaterra e França são países que estamos a abordar já há dois anos.
Acreditamos que, durante este mês, fecharemos o primeiro contrato em Inglaterra e, durante o segundo semestre, em França. Estamos na Bulgária e na Roménia há quase dez anos, países que, tal como Portugal, têm estado com alguma anemia de fundo, mas prevê-se que haja fundos comunitários para fazer infraestruturas, nomeadamente ligações rodoviárias.
Quais os países mais importantes para a vossa empresa?
Em termos de produção de cash e progressão de margem em negócios é a Argélia. Depende do petróleo, mas tem gás e outros recursos naturais. Temos hoje quase 700 milhões de euros de carteira lá. Estamos a construir quatro hospitais, estradas, parques de estacionamento, piscinas, hotéis. Os nossos clientes são o Ministério do Exército, o Ministério da Saúde e clientes privados. É o país onde o crescimento de facturação este ano vai ser o mais importante. Queremos facturar mais de 100 milhões de euros só na Argélia.
Qual o peso das exportações no vosso negócio?
No exercício de 2014, o peso da área internacional era superior a 60%, porque o mercado da construção em Portugal deixou de ser tão expressivo. Em 2015, ficou em 50%, porque o negócio na Venezuela praticamente parou e, em Angola, passámos de 16 obras em curso para nove. Vamos retomar agora alguma coisa. Em Portugal, tivemos crescimentos no ambiente e no sector automóvel. Se me concentrar apenas na área da construção, mais de 80% dos negócios são no mercado externo.
Já abandonaram mercados por terem deixado de ser interessantes?
Não. Mantemos a nossa presença em todos os países, embora em alguns sem actividade expressiva. Todos os nossos parceiros vieram embora da Bulgária e da Roménia. Nós mantemo- nos lá, porque estamos à espera que os fundos cheguem. Estamos a fazer promoção imobiliária. Marrocos também é um mercado bastante difícil. Tivemos lá quase 100 milhões de facturação até 2009. Acabámos uma obra e agora temos apenas uma actividade residual. Ficamos sempre lá com uma antena porque achamos que o mercado da construção é cíclico. Há ciclos de dois ou três anos para cima e ciclos de dois ou três anos para baixo.
Já tiveram algum percalço?
Já. Na Venezuela chegámos a construir 20 edifícios por mês, ou seja, 400 apartamentos. Hoje, estamos a construir um. A Venezuela deve-nos 100 milhões de dólares. Mas vamos recuperá-los. Nos últimos quatro anos, exportámos mais de 300 milhões de Portugal para a Venezuela. Envolvemos directamente no terreno mais de 20 empresas da região – carpintarias, electricistas, etc – que não estariam vivas hoje se não fosse isso. Além disso, envolvemos mais 80 fornecedores nacionais.
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