Os maus hábitos orais na primeira infância contribuem para alterações às estruturas orofaciais, prejudicando funções como o respirar, deglutir e falar.
O alerta é deixado por Débora Franco, coordenadora do departamento de Motricidade Orofacial da Sociedade Portuguesa da Terapia da Fala e docente na Escola Superior de Saúde do Politécnico de Leiria.
No âmbito do Dia Mundial da Motricidade Orofacial, que se assinala no próximo dia 17, Débora Franco refere que este é um campo da terapia da fala “inovador”, que trata as questões “orais, faciais e cervicais”, cujas estruturas “são indispensáveis para o funcionamento da fala, respiração, da mastigação, sucção e deglutição”.
[LER_MAIS]Chuchar no dedo, morder um objecto, utilizar a chupeta ou o biberão de forma frequente e por um período prolongado são hábitos “que dão uma sensação de prazer”, mas, “com o prolongar do tempo, começam a trazer alterações às estruturas orofaciais”, traduzindo-se, entre outras situações, na dificuldade em respirar, posicionamento inadequado da língua, deglutição atípica ou alterações na fala como o sigmatismo, conhecido como ‘sopinha de massa’, alerta a docente.
Débora Franco salienta que é habitual dentistas, otorrinolaringologistas ou pediatras encaminharem as crianças para a terapia da fala, quando se deparam com estes problemas já enraizados. “O importe é prevenir. Temos de alertar os pais para algumas medidas. Se retirarmos o hábito mais cedo, evitam-se muitos destes problemas.
Recomendamos retirar o biberão por volta dos 18 meses e a chupeta aos 2 anos”, aponta.
Esta especialista sugere aos pais que não deixem as crianças “ser donas daquele objecto”.
“Não é preciso uma atitude radical e dizer que não se dá chupeta ou biberão, mas a criança não o pode usar quando quer. É importante impor limites e, sobretudo, não prolongar esses hábitos, por muito que custe à criança e aos pais.”
Débora Franco insiste que as alterações orofaciais podem prejudicar o rendimento escolar quando as crianças crescem.
“Como não respiram pelo nariz, cansam-se muito mais, o sono é mais leve, acordam várias vezes durante a noite e ficam mais agitados e com dificuldades de concentração.” Quando há alterações estruturais a solução pode passar por intervenções cirúrgicas, como a “remoção das amígdalas ou dos adenóides e muita terapia da fala”.