Conhecido por ser um clube que aposta verdadeiramente na formação de base – basta olhar para jogadores como Cristiano Ronaldo ou Ricardo Quaresma e para os escolhidos de Ruben Amorim – o Sporting está a seguir a mesma filosofia no futebol feminino e os seus olheiros têm passado por Leiria à procura de craques.
Matilde Nave foi a mais recente contratação para a formação do Sporting, após um longo namoro com os ‘leões’. Antes de si, o emblema de Alvalade já tinha vindo buscar Ana Alves, guarda-redes que jogava na União Desportiva da Serra.
A estas jogadoras falta-lhes competição, sobretudo, diante de equipas unicamente femininas, já que a maioria integra os escalões masculinos, pelo menos até juvenis. Mas o talento está lá e não tem passado despercebido. No caso de Matilde Nave, a jovem começou a jogar por volta dos 7 anos na Academia Desportiva CCMI (ADCCMI) numa equipa mista. Rapidamente se fez notar em campo e o seu talento levava a que fosse sempre convocada.
“Quando tinha 10/11 anos tivemos a abordagem de um dos olheiros do Sporting, que convidou a Matilde para um treino de observação em Lisboa. Eram cerca de 70 a 80 meninas e ficaram duas ou três”, conta Marco Nave, pai de Matilde, que esta semana está em estágio com a selecção nacional sub-16, a sua prenda de Natal. A jovem voltou a realizar mais treinos de observação, mas os pais entenderam que seria [LER_MAIS]demasiado nova para ir treinar a Lisboa várias vezes por semana.
No início desta época, os leões apresentaram um contrato de formação, já que os vínculos profissionais só podem ser assinados a partir dos 16 anos. Matilde, 14 anos, vai agora duas vezes por semana treinar a Lisboa, “sempre depois das aulas”, e joga ao fim-de-semana pelo Sporting.
Marco Nave confessa que houve contactos de outros clubes grandes, mas Matilde “criou laços” com as futebolistas e técnicos leoninos. “Isto para os pais não pode ser visto como um mercado. Vai para onde se sentir melhor”, sublinha. O pai, que tem um imenso orgulho na filha, tal como a mãe e a irmã mais nova – a sua grande fã – confessa que fazer três viagens por semana a Lisboa é “um esforço grande”, mas fá-lo para que a filha siga o seu sonho, consciente de que dificilmente poderá vir a viver do futebol.” Se fosse um rapaz admitia essa possibilidade. Sendo rapariga, mesmo internacionalmente, não é possível”, até porque o futebol feminino ainda está “20 a 30 anos atrasado face ao masculino”.
A qualidade das meninas da ADCCMI não é só visível para quem já assinou contrato. Várias jovens têm contado com chamadas à selecção distrital e o futuro poder-se-á começar a desenhar. Francisca Alexandre, 13 anos, guarda-redes, já esteve na selecção distrital sub-14. Desde pequena que jogava futebol com os rapazes nos intervalos das aulas. “Era a única rapariga”, afirma.
Apesar de ter praticado ballet e judo, é num campo de futebol que é mais feliz. Todos os dias treina afincadamente para ser “cada vez melhor” e não encontra diferenças entre raparigas e rapazes: “Todos temos capacidades e podemos evoluir.” A baliza sempre foi a sua posição, talvez por a tia ter sido guarda-redes de andebol.
Fã do esloveno Jan Oblack, Francisca olha para a colega Matilde como um exemplo de que é possível chegar mais longe. Carlos Alexandre dá-lhe carta branca para decidir o seu futuro. “O futebol é a paixão dela. Fará o que quiser”, garante o pai. “É um orgulho para nós. É muito aplicada, super-empenhada e quer ser melhor a cada dia”, diz, ao lamentar que não haja campeonatos com equipas exclusivamente femininas.
Esse é também o problema apontado por Sara Ferreira, mãe de Bruna Brites, 15 anos, que já realizou treinos no Benfica e tem mudado de clube à procura de evoluir cada vez mais no futebol. Presente com alguma regularidade na seleção distrital, a jovem sonha com uma chamada à selecção nacional e em chegar à Liga BPI. “É para isso que trabalho diariamente.” Sara Ferreira afirma que as raparigas “jogam com mais intensidade e metem mais paixão no jogo”. “Vão lá com tudo e disputam cada lance até à última”.
A ADCCMI decidiu apostar no futebol feminino a partir da base. Renato Cruz explica que desde a abertura que o clube teve a inscrição de meninas. “Elas cresceram, foram continuando e foram chegando mais raparigas”, afirma o presidente do clube, ao referir que abrir equipas exclusivamente femininas surgiu para dar resposta às suas atletas, que só podem competir em equipas mistas até aos iniciados. “Não é muito comum haver equipas 100% femininas nos escalões mais baixos”, constata, lamentando, contudo, que não haja no distrito mais equipas só de meninas.
“O nosso objectivo é ter mais escalões de futebol feminino, para quando chegarmos aos juniores ser uma consequência do crescimento das atletas”, acrescenta.