Liberdade, irreverência e superação são sinónimos da modalidade que usa as ruas como tela para a arte em movimento. “É uma forma de estar na vida”, sintetizam os praticantes que fazem isto há décadas. Encontram-se no parque da cidade junto ao rio Lis para mais um fim de dia a fintar rampas, a voar sobre escadas e a dançar em corrimões com uma tábua e quatro rodas.
Acrobacias que parecem fáceis para quem passa, mas que espelham a persistência de muitas horas de treino em lugares inusitados. “Porque o skate é da rua”, sublinha Rogério Venâncio, de 32 anos, que deixa o brilho nos olhos denunciar a emoção ao falar de como tudo começou na Fonte Luminosa, “o local que deu um impulso ao skate em Leiria e ainda hoje inspira skaters de todo o mundo”.
“Agora já há miúdos com seis anos a praticar, costumam aparecer, deixam as bicicletas e pedem para andar no nosso skate”, conta com a tábua da marca que criou na mão. E justifica o aumento da procura com “o aparecimento de parques, os pais com mente mais aberta e a entrada do skate nos Jogos Olímpicos”.
Uma mudança que está a redefinir o futuro do skate e que pode ter dado um pequeno empurrão à criação da NoComply, a primeira associação da modalidade da cidade do Lis.[LER_MAIS]
“Queríamos que algo mudasse também no mundo do skate em Leiria, para termos voz e mais condições”, explica João Lourenço, de 19 anos.
“O nome é inspirado numa manobra muito antiga, que consiste em meter um pé no chão e rodar 180º, e diz tudo: não complicar”, afirma o presidente da associação que pretende dar resposta “à necessidade que existia de juntar várias gerações de skaters da cidade”.
“Temos um grupo desde o início dos anos 90 com o qual construímos rampas e um skate parque, demos aulas e fizemos campeonatos e eventos”, conta João Sales, de 45 anos, sobre o percurso trilhado “de uma forma informal” com a passagem por várias associações.
“Fizemos as coisas acontecer, criámos condições para o skate evoluir na cidade e agora sentimos que tínhamos condições para formalizar este grupo de uma forma associativa para mostrar às entidades que estamos aqui, desenvolvemos o skate e ele está a crescer a nível mundial”, detalha.
A NoComply quer criar um espaço interior que possa servir para treinar e para eventos relacionados com a cultura da modalidade, promover aulas, organizar competições e, sobretudo, ser “casa”.
“O skate dá algumas lições de vida, as pessoas percebem que quando pisam o skate esquecem todos os problemas e sentem que há ali um grupo coeso que os ajuda a enfrentar as dificuldades”, acrescenta o presidente, confidenciando que ali “as pessoas são livres e têm uma casa, ou uma organização, que não julga sexos, idades, raças ou estrato social”.