Não é a primeira vez que recomendo por aqui os Ran Ran Ran, banda do catalão Ferran Baucells e seguramente não será a última. O novo disco, “Rendez-vous” chegou em Setembro – em formato K7 e digital – e entrou directamente para o meu pódio dos melhores discos do ano.
Em apenas 26 minutos, Ferran mostra uma vez mais uma capacidade única para criar música intemporal. Tão bonitas como desconcertantes, tão aparentemente simples como obviamente intrincadas, estas oito canções transbordam de emoção e beleza e convidam-nos a mergulhar de cabeça nos universos de cineastas como Agnès Varda, Jean Renoir, Max Ophüls ou Jacques Demy – cujo clássico “Os chapéus de chuva de Cherburgo”, é homenageado na capa do disco, através de uma ilustração do estupendo Daniel Serrano (procurem-no nos sítios do costume).
As referências cinematográficas são uma constante na obra dos Ran Ran Ran (se ainda não o fizeram, ouçam com urgência o anterior “Jo faig rànquings tu poemes”), mas desta vez a coisa vai uns bons passos mais além nessa vontade de fazer de um certo cinema, cantigas.
Quando digo um “certo cinema”, refiro-me àquele que diz coisas, que não poupa nas metáforas e muito menos na contemplação e exaltação do espaço, na gestão dos silêncios, na beleza como objectivo final.
São assim as melodias de “Rendez-vous”. Delicadas, intensas, contemplativas e, ao mesmo tempo, urgentes, sinceras e, claro, belas. Ouçam, por exemplo, o tema título e digam-me lá se não conseguem, sem o mínimo esforço, visualizar aquele diálogo num filme francês, com dois personagens jovens, lindos e aborrecidos, a tentarem encontrar-se um ao outro, mas sem conseguirem pensar em nada mais senão naquilo que os separa… Uma maravilha!
E, por falar em beleza, no início de Outubro a notícia do ano chegou do Canadá. Depois de um hiato de quase 20 anos, os p:ano regressaram ao activo com “ba ba ba”. “Mas, quem raio são os p:ano?”, perguntam vocês (e bem). Pois, anotem: os p:ano são uma das bandas de Nicholas Krgovich, um dos mais geniais escritores de canções dos últimos 20 anos, que provavelmente menos gente conhece.
Desfaçam esse erro, deixem este disco entrar na vossa vida e, de caminho, procurem “Maintenant”, do projecto Gigi, também do senhor Krgovich.