O centro de investigação do Hospital de Santo André (HSA), da Unidade Local de Saúde da Região de Leiria, já gerou cerca de um milhão de euros ao longo dos dez anos de existência.
Os ensaios clínicos têm sido uma das áreas em que mais produção científica tem sido alcançada, mas o seu coordenador, João Morais, não tem dúvidas em afirmar que não teria conseguido grandes resultados sem a parceria com o ciTechCare, que existe há cinco anos, quando este Centro de Inovação em Tecnologias e Cuidados de Saúde da Escola Superior de Saúde (ESSLei) do Politécnico de Leiria abriu portas.
“No momento em que a academia criou o ciTechCare tudo isto explodiu. O HSA passou a ter acesso a coisas que seria muito mais difiícil alcançar fazendo este caminho sozinho. Temos nove projectos em co-promoção e 44 papers em parceria”, assume João Morais.
Desde que o hospital criou o centro de investigação houve vontade de ter uma proximidade com o centro académico. “Não somos um hospital universitário – até foi durante algum tempo argumento para não se ter investigação -, mas fazemos formação pós-graduada a cerca de 200 médicos por ano. Hoje é impensável que a actividade médica seja desligada da actividade de investigação, porque investigar significa tratar melhor. Um hospital que investiga dá rigor, metodologia, sentido crítico e raciocínio.”
Em crescimento
Os cinco anos de ciTechCare têm sido de “grande crescimento”, afiança Maria Guarino. A coordenadora do centro de investigação da ESSLei destaca investigação que tem sido desenvolvida e que supera os 400 papers publicados em bases científicas indexadas, 22 estudantes de doutoramento, nove dos quais com bolsas financiadas e dois profissionais de saúde do hospital de Leiria.
“A ideia é que estes investigadores altamente diferenciados possam fazer os seus projectos de investigação enquanto estão a exercer actividade assistencial. Ou seja, fazem o seu trabalho clínico e, ao mesmo tempo, geram dados para projectos de investigação”, salienta Maria Guarino, ao revelar que dos 36 projectos financiados, 13 têm colaborações internacionais, com instituições de grande dimensão, como Harvard Medical School.
O OncoEnergy, um manual de exercício físico para pessoas com cancro é um dos estudos do ciTechCare que mais impacto directo teve nos doentes. “Este projecto já está a gerar noutras instituições novas teses de doutoramento e de mestrado. Têm sido visíveis os benefícios”, salienta a investigadora.
O 2Arts, um programa de reabilitação cardíaca, é outro dos projectos em evidência, já que permitiu a aquisição de “um equipamento muito diferenciador que está instalado no HSA” e que tem “uma utilização muito importante para a investigação”.
Leiria no mapa
Maria Guarino considera que o ci- TechCare colocou Leiria no mapa em termos de investigação. “Somos contactados por gente de todo o País que quer fazer doutoramentos connosco e há muita pressão para saber quando é que o Politécnico terá doutoramentos na área da saúde, porque já nos reconhecem competências científicas capazes de dar formação de qualidade a este nível”, declara.
Um dos desafios que se coloca agora é garantir uma classificação de, pelo menos, muito bom pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, que permite outorgar o grau doutor. “Vamos criar um laboratório de comunicação para profissionais de saúde quer na área dos cuidados paliativos, quer do luto e depois continuar a apostar nas duas áreas em que somos muitíssimo fortes, em conjunto com o HSA: a reabilitação cardíaca e respiratória”, revela Maria Guarino.
A interacção entre estes dois centros de investigação é para João Morais uma grande mais-valia, pois permite “perceber quais são as reais necessidades dos doentes e dos profissionais”. Os ensaios clínicos têm sido uma das actividades mais importantes do centro de investigação do HSA.
“Os jovens médicos que fazem investigação em ensaios clínicos ganham metodologias que depois vão aplicar no tratamento de doentes. Dão-nos prestígio e notoriedade e trazem dinheiro. Tudo isto é importante. Nestes dez anos foram realizados algumas dezenas de ensaios, com mais de 300 doentes”, que se voluntariaram, o que “permite trabalhar na investigação de fármacos inovadores e dar-lhes acesso a intervenções de ponta”.
“É importante crescer no número de serviços envolvidos e áreas assistenciais. Neste momento, uma grande parte dos nossos serviços estão envolvidos em ensaios clínicos e alguns deles com destaque internacional”, afirma João Morais, admitindo que nem todos os ensaios clínicos têm sucesso, mas alguns resultaram em grande êxito e “geraram produtos fantásticos”.
O futuro passa agora por tentar autonomizar o centro de investigação. “Neste momento temos de capacitar a estrutura para ir mais longe”, afirma, defendendo ainda que seja garantido “tempo protegido para investigar”, permitindo aos profissionais ter atribuídas horas dentro do seu horário de trabalho para a elaboração de estudos.
Investigação, Inovação e Sustentabilidade em Saúde