A Ur’Gente, comissão de utentes de saúde de Porto de Mós, levou uma comitiva constituída por 36 utentes do concelho e dois médicos de Leiria, à manifestação promovida esta tarde, em Lisboa, pelo movimento cívico +SNS, que exige o reforço de recursos humanos e investimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
O autocarro partiu às 12:30 horas de Alqueidão da Serra, passando ainda pela Central das Artes de Porto de Mós, antes de se dirigir até ao Largo do Camões, em Lisboa, onde pelas 15:00 horas iniciou a manifestação nacional, em direcção à Assembleia da República.
“Somos uma associação local, mas com pensamento global. O problema do nosso concelho é transversal a todo o país, e temos de estar envolvidos neste processo, porque só dessa forma os problemas locais e nacionais podem ser solucionados”, explica João Gabriel, responsável pela comissão, revelando que “foi com surpresa e agrado” que recebeu o convite do Movimento +SNS para discursar aquando da chegada à Assembleia da República.
“De Lisboa enviamos um enorme abraço de solidariedade a todos os utentes que, como nós, não têm médico de família. E somos mais de um milhão e 700 mil. Mas no coração trazemos, de forma mais viva, a voz da frustração dos sete mil utentes do nosso concelho que estão sem médico”, afirma João Gabriel.
De acordo com o responsável, se a média de utentes sem médico de família em Portugal “ronda os 19%”, em Porto de Mós “é cerca de 49%, ou seja, metade da população do concelho”.
“Dizem-nos que a nossa terra não é atractiva para a classe médica e que somos utentes ‘muito difíceis’ porque não nos conformamos. Mas o concelho de Porto de Mós é um sítio óptimo para se viver, onde os especialistas em medicina geral e familiar têm a oportunidade de desenvolver todo o seu potencial, construir uma carreira, ter reconhecimento social, uma boa qualidade de vida.”
João Gabriel não esquece também a recente colocação de médicos, referindo que o director executivo do SNS “deveria pedir desculpa aos utentes que continuam sem médico de família”.
No que respeita ao Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal Litoral, cuja área de influência corresponde aos concelhos de Batalha, Leiria, Marinha Grande, Pombal e Porto de Mós, das 41 vagas propostas pelo agrupamento, apenas sete clínicos foram colocados, designadamente três em UCSP – Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (duas em Leiria e uma em Pombal) e quatro em USF – Unidade de Saúde Familiar (três na Marinha Grande, uma em Leiria).
Das cinco vagas abertas em Porto de Mós, nenhuma foi preenchida. “Não compreendemos o apregoado sucesso desta operação, quando todas as vagas abertas para a UCSP do nosso concelho ficaram por preencher. Infelizmente, a escassez atingiu igualmente o resto do país”, frisa ainda João Gabriel.
O Movimento +SNS, promotor da manifestação desta tarde, conta com a participação de personalidades de diversos quadrantes, como da saúde, com Constantino Sakellarides e Francisco George, da cultura, com os músicos Jorge Palma e Salvador Sobral, o realizador João Salavisa e os escritores José Luis Peixoto e Luísa Costa Gomes, ou da política, com Alexandra Leitão e Daniel Oliveira.
O movimento lançou um manifesto, já subscrito por cerca de três mil pessoas, designadamente da comissão Ur’Gente de Porto de Mós, que pede uma cura para um SNS que “está doente”. “Só haverá verdadeiro acesso à saúde se não desistirmos do combate por um Serviço Nacional de Saúde público, qualificado e universal, pago com os nossos impostos”, pode ler-se no manifesto.