A crise política e económica que se vive na Venezuela, e que se tem agravado nos últimos meses, está a ter consequências para as empresas da região de Leiria que tinham projectos em curso neste país sul-americano.
“Os impactos são altamente negativos”, admite José António Neves, administrador da Leirimetal, reconhecendo que este “foi, a determinada altura, um mercado muito importante” para a empresa.
“Temos trabalhos para fazer, mas estamos a aguardar”, diz o responsável da empresa de Leiria. Especializada no fornecimento de soluções automatizadas para o sector da cerâmica de barro vermelho, a Leirimetal esteve envolvida num projecto “bastante ambicioso” que contemplava a construção de um pólo industrial no Estado de Anzoateguei, na Venezuela. Das três fábricas previstas (uma para fabrico de tijolo, outra de telha e outra de tijolo maciço), a primeira foi concluída e iniciou a laboração.
“O nosso cliente, a empresa estatal Petróleos da Venezuela, não nos tem pedido grandes trabalhos. Há tempso foram precisas peças, mas não as mandámos porque não havia dinheiro para nos pagarem”, diz o empresário, que aponta a instabilidade, a incerteza e a falta de dinheiro como os principais problemas. “Continuamos a ter um escritório na Venezuela, mas a actividade neste país foi muito reduzida”, acrescenta.
Há mais de quatro anos que o Grupo Lena tem para receber 80 milhões de dólares do governo venezuelano. Mas não abandonou o projecto em que está envolvido, que previa, entre outros aspectos, a construção de 12500 casas (foram já construídas cerca de 60%).
“Não abandonámos nem vamos abandonar. Mantermo-nos no país é a melhor maneira de proteger o que lá temos. Sairmos da obra seria motivo para o governo rescindir unilateralmente”, explica Joaquim Paulo Conceição.
“Fomos lambendo as feridas e aguentando. A nossa dívida às empresas que estiveram connosco, e que na sua maioria vieram embora, é praticamente zero”, adianta o CEO do grupo de Leiria. “O último pagamento que nos foi feito da Venezuela foi em Junho de 2016. Apenas 15% e em bolívares, que valem cada vez menos”, diz o gestor, adiantando que o grupo tem agora apenas “três ou quatro expatriados” naquele país, a que se juntam cerca de 100 trabalhadores locais.
[LER_MAIS] “Ganhámos entretanto uma obra grande, que consiste na construção de uma estação de tratamento, mas ainda não nos foi entregue. Esperamos recebê-la em breve e iniciar a obra, alocando a este projecto os meios que temos na Venezuela”, diz Joaquim Paulo Conceição.
A Vigobloco esteve envolvida na construção de duas fábricas de pré-fabricados (que depois vendeu) e na produção de elementos pré-fabricados para a construção de habitação social, no âmbito do contrato de celebrou com o Grupo Lena.
Em 2014, a empresa tinha cerca de metade da sua actividade concentrada na Venezuela, onde tinha mais de 50 trabalhadores expatriados, como escreveu na altura o JORNAL DE LEIRIA.
“Ainda laborámos em 2015 e em 2016, mas em meados deste ano abandonámos o projecto”, conta Nélia Saraiva. “Por razões políticas e económicas não nos foi possível continuar”, diz a administradora da empresa de Ourém. “Saímos no limite e a saída implicou prejuízos, porque as 12500 habitações que era suposto construir apenas se fizeram 7000”, acrescenta.