Fazer com que o filho entre aos 5 anos no 1.º ano do 1.º ciclo do ensino básico ou esperar por mais um ano, mantendo-o no ensino pré-escolar? A questão coloca-se por esta altura a muitos encarregados de educação, que agem de diferentes formas.
José Domingues, de 47 anos, que celebra o seu aniversário em Dezembro, recorda-se perfeitamente do seu percurso escolar, que começou com a entrada no 1.º ano do 1.º ciclo quando ainda tinha 5 anos. “Era o mais novo de todos na turma e era difícil brincar com as outras crianças. Eu tinha 5 e estava entre meninos de quase 7 anos. Sempre me faltou maturidade”, reconhece.
“Quando senti mais diferença, foi ao entrar na universidade. Ainda tinha 16 anos e, mais uma vez, era o mais novo”, recorda. “Fiz testes psicotécnicos [LER_MAIS]e os resultados mostravam maior predisposição para História, Línguas e Direito. Direito era, destas três, a disciplina onde as notas não eram tão boas. Mas por pressão da minha mãe e do meu irmão, acabei por ingressar no curso de Direito. Entendiam que era aquele que tinha maior saída em termos profissionais”, prossegue.
“Acabei por entrar no curso, até porque não conhecia grandes alternativas.”
“Reprovei no primeiro ano. E foi quando o repeti, que tive maior gosto no que estava a fazer”, nota José Domingues.
Margarida Silva, cuja filha nasceu em Novembro, também optou por colocar a educanda no 1.º ano do 1.º ciclo quando esta ainda tinha 5 anos. “Na época tinha dúvidas. Mas se fosse hoje, não teria feito isso”.
“Durante todo o primeiro período, a professora dizia-me que ela só queria brincar. E agora também vejo que as crianças têm essa necessidade de brincar por mais tempo. Alguns meses ou um ano de diferença entre as crianças da mesma turma é algo que se nota bastante”, considera Margarida Silva. “Ela ainda não tinha foco suficiente para estar sossegada muito tempo a aprender”, entende a encarregada de educação.
“Por outro lado, a professora não tinha como ir ao encontro das necessidades dos diferentes alunos”, reconhece. Andreia Estarreja, psicóloga pediátrica, avalia frequentemente as competências de crianças à entrada do 1.º ciclo.
“Noto que há cada vez mais pais preocupados com esta questão. Como actualmente existe uma política orientada para que não haja retenções, que tem subjacente maior autonomia dos alunos, menos restrições, os pais preocupam-se que as suas crianças tenham maturidade emocional e competências adequadas para acompanhar os programas e integrar o grupo de forma saudável”, justifica a psicóloga.
“Aplicamos diferentes provas, para conhecer a sua maturidade e saber se possuem ferramentas para gerir emoções. É preciso falar com a criança, mas também com pais e educadores do pré-escolar. Na dúvida, é preferível que a criança entre mais tarde no 1.º ano”, defende a especialista. “É sempre necessário analisar caso a caso, percebendo até que escola e que professor irá receber a criança”, acrescenta Andreia Estarreja.
Prestes a iniciar o seu 28.º ano de aulas, Vanessa Prazeres, professora do 1.º ciclo do ensino básico, salienta que, em quase três décadas, já viveu várias experiências com os seus alunos. Entrar na escola aos 5, aos 6 ou aos 7 anos de idade depende muito do desenvolvimento de cada criança. “Aos 5 anos, há algumas crianças que têm capacidade para avançar, em termos académicos, que conseguem aprender os conteúdos programáticos, enquanto outras, até mais velhas, podem ter maior dificuldade”, compara a docente.
“É importante olhar para a criança no seu todo, no sentido emocional, no sentido de maturidade. Porque, por vezes, existem crianças que acompanham as outras, em termos académicos, mas são diferentes em termos de maturidade emocional”, salienta. Vanessa Prazeres alerta que, por vezes nem é necessariamente no 1.º ciclo que se nota a imaturidade.
Poderá manifestar-se em ciclos seguintes, por exemplo no 9.º ano, quando é preciso tomar decisões, fazer opções sobre disciplinas, ou até na fase de ingresso na universidade. São etapas que podem ser complicadas se os jovens não estiverem preparados, adverte a professora. “O ideal é que a criança seja avaliada por profissionais, por um psicólogo”, recomenda. “Até porque os meninos precisam de tempo para serem crianças, para brincar. Existe uma tendência para apressar tudo, mas há que viver cada uma das etapas da vida sem as antecipar”, defende a professora.