Devia ter aberto ao público em Agosto, com serviço diário, mas ainda está fechada.
A Cervejaria Senhor João, em São Pedro de Moel, não consegue recrutar um cozinheiro nem pessoas para trabalhar na cozinha.
Como esta empresa, muitas outras da área da hotelaria e restauração sentem cada vez mais dificuldades em contratar pessoas.
“Os candidatos que nos mandam do Centro de Emprego não estão interessados. Iriam receber mais ou menos o mesmo, mas para virem trabalhar têm mais despesas”, aponta Rita Casimiro, sócia desta nova cervejaria.
Sem conseguir desenvolver a actividade como tinha previsto, tem apostado nos eventos, para os quais ainda vai conseguindo encontrar pessoas para trabalhar, por serem apenas algumas horas.
Rita Casimiro espera conseguir abrir a cervejaria ao público em breve, porque agora que terminou a época alta há pessoas que até aqui estavam ocupadas em espaços nas praias e em eventos que passam a estar disponíveis.
A responsável reconhece que este é um sector difícil. “O trabalho é mal pago e os horários são muito violentos. Isto tem de mudar, mas neste momento não há condições”. É que, frisa, “um funcionário custa à empresa o dobro do que leva para casa”.
O peso dos impostos é referido igualmente por Luís Vasco Pedroso, que defende que a descida do IVA na restauração ajudaria as empresas a recuperar e a pagar melhores salários.
“Tem de haver condições para isso, temos de poder aumentar os salários”. Sem isso, sem formação profissional e sem valorização destas profissões, o problema da falta de mão-de-obra irá agravar-se.
Para o Operário, na Marinha Grande, Luís Vasco Pedroso não conseguiu esta época encontrar pessoas suficientes para a cozinha, pelo que esta se manteve fechada. No espaço têm sido servidas apenas refeições ligeiras, como tostas ou torradas.
No Old Beach, em São Pedro, o cenário não foi muito diferente. Devido à falta de pessoal, a cozinha trabalhou apenas a um terço do que deveria e não foi possível ter o espaço aberto até às duas da manhã durante a semana, conta o empresário.
“É uma crise como não me lembro. Se o turismo tivesse recuperado, não teríamos condições de prestar um bom serviço”, diz Luís Vasco Pedroso, que constata que muitos trabalhadores deste sector foram para outros durante a pandemia. E muitos imigrantes, que eram boa parte da mão-de-obra, regressaram aos seus países.
[LER_MAIS] Para o também presidente da Associação Comercial e Industrial da Marinha Grande, a solução passa por valorizar estas profissões, por melhores salários e uma parceira com o Governo de forma a ocupar as pessoas com formação profissional na época baixa, com os ordenados a serem suportados por este e pelas empresas nesse período.
“A dificuldade em encontrar pessoas é muito grande. Assim nem temos vontade de expandir os negócios”, aponta Natálio Reis, responsável pelo D. Nuno, um espaço de eventos em Fátima. “Até à pandemia não era fácil, depois piorou muito”.
“Tem-se feito das tripas coração e tem-se conseguido trabalhar, mas é preciso não esquecer que estamos a 60%. Os eventos não estão ainda ao nível anterior à pandemia. Se estivessem, não se conseguiria trabalhar porque não há mão-de-obra”, assegura o empresário.
“Se este já era um sector pouco atractivo, devido aos horários e ao trabalho ao fim-de-semana, tornou-se ainda menos atractivo com a instabilidade causada pela pandemia”, constata Purificação Reis.
A presidente da Associação Empresarial Ourém Fátima, que nesta qualidade tem assento na direcção da Escola Profissional de Ourém, diz ainda que se nota um “decréscimo muito acentuado” da procura destas áreas de formação por parte dos jovens, o que deixa antever um agravamento da falta de mão-de-obra no futuro.
Para Purificação Reis, a solução passará por várias vertentes, “mas o fundamental é que haja estabilidade” nestes sectores, para que as empresas possam trabalhar e ser rentáveis, e assim ajustarem condições de trabalho.
“Se as pessoas virem que estes sectores não asseguram estabilidade de emprego procurarão alternativas”.
Dados do mais recente inquérito realizado pela AHRESP indicam que 84% das empresas de restauração e similares e 57% das empresas de alojamento turístico “sentiram dificuldades na contratação de novos colaboradores este ano”, informa a associação, que considera que este é “um dos obstáculos que pode pôr em risco a recuperação do turismo e da economia nacional”.
“Embora esta dificuldade já tivesse começado a sentir-se antes da crise pandémica, a inactividade das empresas turísticas ao longo do último ano e meio deslocou trabalhadores para outras actividades económicas, agudizando o problema”, refere a associação, que diz ser “urgente a criação de mecanismos que apoiem e facilitem a contratação e qualificação de recursos humanos”, dado que “as pessoas são o activo mais importante em qualquer actividade, em particular no turismo”.