São já mais de 120 as médias e grandes superfícies que as cadeias de retalho alimentar nacionais e estrangeiras têm na região. E continuam a abrir lojas.
No final de Dezembro a Jerónimo Martins abriu mais uma loja em Leiria, a quinta no concelho. Situada no Lis Shopping, tem quase 1500 metros quadrados e conta com uma equipa equivalente a 68 pessoas a tempo inteiro.
Esta não é a única cadeia a apostar em Leiria. Depois de em Maio ter aberto um Continente Bom Dia na antiga Proalimentar, a Sonae prepara-se para abrir outro espaço do género no Rego d’Água, no edifício onde funcionou a Moviflor, numa zona onde, no raio de pouco mais de um quilómetro, já há lojas de cinco concorrentes.
O que poderá justificar esta aposta? Há ainda espaço no mercado para novas lojas? O JORNAL DE LEIRIA questionou a Sonae, que não respondeu até ao fecho da edição.
“Estamos ainda abaixo da média de metros quadrados de loja por habitante”, avança Tomé Lopes, administrador do Grupo Os Mosqueteiros. “Ninguém quer perder a quota de mercado que tem. Uns abrem e os outros vão atrás”, acrescenta o também proprietário do Intermarché de Pombal e de Marinha da Guia. “Sem metros quadrados abertos não se conseguem aumentar as vendas”.
[LER_MAIS] Para o empresário, haverá ainda algum espaço para acomodar novas lojas, “mas o mercado não é elástico e em breve vai saturar”. Contudo, porque “a proximidade conta muito”, nota-se uma mudança de paradigma e nos próximos anos intensificar-se-á a tendência de abertura de pequenas mercearias por partes dos grandes grupos.
Na região, marcas como a Meu Super e a Amanhecer, por exemplo, têm já dezenas de espaços. Os “acordos” que as cadeias da grande distribuição fazem com agentes locais para a abertura destes espaços permite-lhes vender os seus produtos sem ter custos com as instalações e com o pessoal, refere o empresário.
Quanto à cadeia Intermarché, Tomé Lopes reconhece que em 2019 não foram abertas muitas lojas, mas adianta que para este ano existe um plano de expansão “mais agressivo”. Vão ser abertos pelo menos 15 espaços, mas para já não está previsto nenhum na região de Leiria.
Nos últimos dois anos, as principais insígnias abriram 282 supermercados, consolidando a aposta nas lojas de proximidade, avança o Diário de Notícias, citando dados do Ministério da Economia.
O negócio não pára de crescer, quer em unidades quer em vendas. No ano passado, o retalho alimentar apresentou um volume de negócios de 12,4 mil milhões de euros, com um crescimento de 2,8% face a 2017. De Janeiro a Setembro do ano passado, os aumentos das vendas rondaram os 5,5%.
A Aldi Portugal tenciona manter a abertura de novos espaços e tem mesmo “objectivos bastante ambiciosos para os próximos anos”, disse ao JORNAL DE LEIRIA Ricardo Santos.
O director de marketing e comunicação revela que num prazo inferior a cinco anos a cadeia alemã pretende triplicar o número de lojas. A ideia é instalar-se em cidades onde ainda não tem espaços e reforçar a sua presença em cidades “relevantes” onde já tem.
Para esta cadeia, a proximidade aos clientes é “uma questão relevante”, daí a aposta em reforçar a presença em algumas cidades e em abrir noutras. “Pretendemos ter uma cobertura homogénea por todo o País e estar cada vez mais perto dos nossos clientes”.
Com quatro lojas no distrito, a última das quais aberta em Abril no Rego d’Água, Leiria (renovação e mudança de local), a cadeia não prevê reforçar a sua presença na nossa região este ano.
Num mercado aparentemente saturado continua a haver espaço para novas lojas? Ricardo Santos afirma que o Aldi “tem vindo a crescer ao longo dos anos e a conquistar maior notoriedade”, devido aos seus produtos diferenciadores de elevada qualidade, aos preços competitivos e ao facto de procurar constantemente adaptar-se às necessidades dos consumidores portugueses.
Para os produtores que fizeram investimentos e se prepararam para fornecer a grande distribuição, a abertura de novas lojas “é óptima”, reconhece Jorge Soares. O presidente da Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça (APMA) nota que as cadeias estão a apostar na proximidade aos consumidores, quer através de supermercados quer do conceito de lojas de bairro, “muito competitivas”.
“Quando perceberam que os hipermercados não iriam ter um grande crescimento, apostaram em lojas mais pequenas, mas mais próximas dos clientes”, para que estes possam deslocar-se aos estabelecimentos com maior frequência.
Para Jorge Soares, é isto que ajuda a explicar que as cadeias abram novas lojas em zonas onde a cobertura já estaria assegurada, devido à existência de outros concorrentes. “A ideia é abrir para conquistar clientes ao outro, é a chamada loja parasita”.
Para a Maçã de Alcobaça, a abertura de novas lojas das cadeias de distribuição significa potencialmente mais vendas. Isto porque a associação tem conseguido fazê-las perceber as mais-valias da portugalidade e da regionalidade.
“A maioria das cadeias deixou de dar total primazia às frutas importadas e a preferir os melhores produtos nacionais”.
Em pouco mais de uma década, a Lidl passou a ser o maior comprador de Maçã de Alcobaça, por exemplo. A Sonae também tem aumentado as compras deste fruto, que agora se pode encontrar nas lojas das principais cadeias, revela Jorge Soares.
Num mercado dominado pela grande distribuição, como sobrevivem as pequenas mercearias? “De ano para ano é mais difícil conviver com essas cadeias”, admite Raul da Bernarda.
O responsável pela Mercearia Pena, espaço com 110 anos que funciona em Caldas da Rainha, diz que tem apostado na diversificação da gama de produtos, na qualidade e na exclusividade.
Assim, nesta loja vendem-se diversos produtos tradicionais portugueses que não se encontram em mais lado nenhum.