Depois de arrancar com a laboração de um novo forno na Gallo Vidro, em Fevereiro deste ano, num investimento que conduziu à expansão e à modernização desta unidade da Marinha Grande, o grupo espanhol Vidrala prepara-se agora para investir cerca de 140 milhões de euros na SB Vidros, na mesma cidade, com a maior parte deste valor aplicado na reconstrução de dois fornos em final de vida.
A notícia foi avançada ao nosso jornal por Carlos Barranha, director técnico de ambas as fábricas, à margem da visita de Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, que decorreu na semana passada à Gallo Vidro. Carlos Barranha explicou que [LER_MAIS]o forno 1 da SB Vidros chegou ao fim do ciclo de vida em Julho, tendo sido desactivado este mês. Está a ser demolido para ser reedificado um novo, no mesmo local, cuja laboração deverá arrancar em Janeiro. Está ainda prevista a reconstrução do forno 4, também ele prestes a terminar o ciclo de vida.
Nos dois novos fornos, o grupo Vidrala prevê investir 110 a 120 milhões de euros, valor que será acrescido de mais 10 milhões, aplicados numa “tecnologia inovadora, que consiste num sistema de recuperação de calor de gases de chaminé”, bem como “investimentos em electrofiltros, sistemas de limpezas de gases, que vão custar mais 10 milhões”, especificou o director técnico.
Ana Abrunhosa visitava a Gallo Vidro para conhecer de perto o resultado das obras feitas numa nova nave, onde foi construído um forno com capacidade para produzir 500 toneladas de vidro branco por dia, trabalhos esses que implicaram mudanças em toda a zona envolvente.
Nessa ocasião, Carlos Barranha e Henrique Monteiro, director da Gallo Vidro, explicaram que outras intervenções estão em curso nesta fábrica. Os espaços irão acolher actividades pensadas para proporcionar as melhores condições possíveis aos colaboradores, salientaram.
Estes trabalhos pretendem retirar o refeitório, hoje localizado no ambiente de produção, para zona exterior. O novo edifício terá jardim e esplanada, contará ainda com uma academia, instalada no primeiro andar, para prática de yoga, spinning e outros exercícios, onde o programa Be Healthy incluirá consultas anti-tabágicas e de alimentação saudável.
Aurélio Ferreira, presidente da Câmara da Marinha Grande, aproveitou a visita da ministra para apelar à necessidade de construir variantes, a nascente e a poente do concelho, infra-estruturas que considera fundamentais para desviar o tráfego de veículos pesados na cidade. O autarca explicou que o concelho precisa de crescer, em termos de espaços industriais e que, em fase de revisão do Plano Director Municipal, a Marinha Grande projecta passar de 212 para 800 hectares destinados à indústria.
“Ter uma fábrica no meio da cidade não é problema. Está resolvido”, sublinhava o presidente, tendo em conta o exemplo da Gallo Vidro, que investiu para minimizar o impacto da sua actividade. O desafio está agora em fazer chegar as matérias-primas e em escoar os produtos acabados para fora do concelho, alertou. “Se hoje já temos 500 camiões a atravessar a cidade, imagine-se quando aumentar a produção, com uma área produtiva quase quatro vezes maior.”
Ao JL, Carlos Barranha falou também sobre um dos maiores desafios para as indústrias, o da descarbonização, por uma questão de sustentabilidade ambiental e económica. É preciso agir para que os fornos deixem de queimar gás natural, mas Portugal ainda não é um País com energia eléctrica 100% renovável, salientou o director técnico. Embora a energia eléctrica usada na Gallo Vidro e na SB Vidros seja comprada com certificado de energia eléctrica renovável, frisou o responsável.
“Mas, dentro de alguns anos, todos vão querer copiar estas lógicas de sustentabilidade e não haverá para todos. E, independentemente dela ser renovável ou não, não será suficiente para electrificar toda a actividade económica”, constatou.
“A solução é produzir gases renováveis, que pode ser hidrogénio verde, uma vez que Portugal tem boas condições para isso. É uma questão de vontade política e de iniciativa privada”, entende o director técnico da Vidrala.
O grupo é de resto um dos stakeholders do projecto Nazaré Green Hydrogen Valley, liderado pela Rega Energy, que prevê instalar uma central de produção de hidrogénio na região, com início da operação em 2025. “Somos potenciais clientes da RegaEnergy. Quando a fábrica de produção de hidrogénio verde estiver implementada, seremos potenciais clientes”. No entanto, adverte Carlos Barranha, “numa fase de transição, a União Europeia terá de subsidiar o preço do hidrogénio, que terá de cair para o nível do gás natural”, ajudando a economia do hidrogénio a chegar aos utilizadores industriais “a um preço razoável”.