Deslizam pelo campo com a rapidez de quem quer continuar a praticar o que faz desde criança, ao som do rolar dos patins que se mistura com as tacadas e os encontrões às tabelas. É mais uma tarde de domingo em que o desporto é o mote para o reencontro nas bancadas, onde as namoradas, os filhos e até as avós acompanham a bola que só é visível aos olhos dos mais atentos. No campo há quem refile com o árbitro que luta por fugir dos tacos enquanto o guarda-redes se desdobra para defender o título que tem sido conquistado jogo após jogo.
Mas é no banco do Sport Clube Leiria e Marrazes que se vive a magia de uma equipa de amigos que, depois dos 35, decidiu juntar-se para jogar hóquei em patins no clube onde há cerca de três décadas deram os primeiros passos na modalidade.
Num entra e sai de campo, entre baixas por ‘boladas’ nas pernas e substituições por cansaço assumido, há brincadeiras que se agudizam ao longo do jogo. É que enquanto uns fazem barulho e puxam pela equipa, há quem amaldiçoe o peso da idade, deixe escapar alguns arrependimentos pela difícil noite da véspera e até quem riposte que os treinos têm de deixar de ser apenas uma vez por mês. Mas nem no meio de uma disputa em que o contador está a favor se esquecem que a competição está em jogo.
“’Bora lá malta, os ‘outros’ não podem crescer e ganhar vantagem”, grita o guarda-redes com uma camisola cor-de-rosa que passa o jogo de pé, junto à entrada do campo, a gerir os ânimos e a orientar as substituições. “Mas a equipa não tem treinador”, deixa claro Cláudio Teodósio que aos 50 anos mete em prática o que começou a aprender em criança. “Por ser mais velho eles escutam-me um bocadinho mais”, acrescenta entre risos, ao falar da “equipa equilibrada com rapazes de qualidade” onde “a malta quer entreter-se um bocadinho mas ninguém quer perder”.
E isso nota-se nos resultados, com a buzina final a confirmar o que tem sido a constante da época: mais uma vitória, e esta até dá acesso à meia-final da Taça Nacional.
A vitória é selada fora de campo, de minis e bifanas na mão, com a família e os amigos enquanto os miúdos correm e reproduzem o que viram os pais a fazer dentro de campo.
E é esse, garantem, o segredo que os move: “o convívio”.
“Somos atletas que já se conhecem há quase trinta anos e é sempre bom continuar a praticar desporto com quem se conhece e gosta”, explica, ao lado do bar, Renato Silva, 43 anos. Atleta da modalidade desde os cinco, conta que a vantagem da equipa de veteranos é que “os treinos são uma vez por semana, ou menos, e não há jogos todos os fins-de-semana” pelo que “a malta vem por diversão”.
“Alguns ainda nem têm idade para a equipa mas vêm treinar para não perder o bichinho do hóquei, e acabamos por ser um grupo de amigos”, confidencia.
“Fazemos uma festa e gostamos de aqui andar”, acrescenta Rafael Silva, 38 anos, que deixou a equipa sénior há pouco tempo.
Divertido, Rafa conta que juntou-se aos amigos “para ganhar cabedal, fazer desporto e alimentar a veia competitiva”, numa equipa de jogadores que lutam pelo clube onde tiveram formação.
“Na altura havia todos os escalões, mas as equipas foram acabando e há uns anos voltámos com os seniores, depois com os veteranos e este ano estamos também a retomar a formação porque os mais novos são a base de qualquer equipa”, conclui.