Um investigador do Politécnico de Leiria criou um manual de exercício físico dirigido a pessoas com cancro, com o objectivo de reduzir os efeitos dos tratamentos oncológicos e a ansiedade e melhorar a qualidade do sono.
OncoEnergy: Manual de exercício físico para pessoas com cancro é apresentado esta sexta-feira e sintetiza um conjunto de exercícios físicos, que têm “evidência científica” nos benefícios que trazem às pessoas que sofrem deste tipo de patologia.
“O nosso objectivo é que o manual chegue, de forma gratuita, aos vários centros de tratamento oncológicos a nível nacional, para que sirva os profissionais de saúde quando recomendam a essas pessoas que se mantenham fisicamente ativas”, afirma Pedro Machado,bolseiro de doutoramento do Centro de Inovação em Tecnologias e Cuidados de Saúde (ciTechCare) do Politécnico de Leiria.
Segundo o investigador, a evidência científica já provou que “a atividade física traz benefícios na gestão de diversos efeitos dos tratamentos e pode reduzir a recorrência de doença e a mortalidade”.
“Nos últimos dez anos, o número de ensaios clínicos sobre exercício em oncologia cresceu de forma exponencial. Sabe-se que o exercício físico, mesmo de baixa intensidade, como a caminhada ou outro tipo de programas de exercícios, tem benefício em vários problemas ligados aos efeitos secundários da terapêutica oncológica. Por exemplo, na fadiga, que é um problema bastante prevalente durante o tratamento oncológico”, destacaPedro Machado.
O investigador acrescenta que, “em situações mais paliativas o exercício de baixa intensidade pode reduzir os níveis de ansiedade e melhorar a qualidade do sono”.
“O que tentamos passar neste manual é que, independentemente do tipo de exercício, o mais importante é que as pessoas identifiquem uma modalidade que lhes dê mais prazer e que a possam manter ao longo do tempo. É esta manutenção do exercício que traz maior benefício, inclusivamente para os tipos de tumor mais incidentes em Portugal, nomeadamente o cancro colorretal e o cancro da mama”, explicou.
Os estudos demonstram que há “maior benefício nos exercícios supervisionados por profissionais de exercício ou por fisioterapeutas, ao nível de qualidade de vida e de melhorias à resistência”.
No entanto, nos programas que têm uma supervisão mais baixa o impacto também é notório. “Existe uma sessão educacional ao início e é aqui que este manual poderá entrar. As pessoas poderão depois realizar os exercícios em casa através de monitorização telefónica”, admite.
Segundo Pedro Machado, este projecto nasceu na unidade curricular Educação e Comunicação em Saúde na licenciatura de Fisioterapia do Politécnico de Leiria. “Fui cuidador de uma pessoa com doença oncológica, trabalho nesta área da prescrição de exercício de pessoas com cancro há alguns anos e tentei contagiar os meus colegas de grupo para sintetizarmos estes exercícios num manual, com informação numa linguagem que fosse acessível à maioria das pessoas.”
O livro foi desenvolvido por estudantes e docentes e por investigadores do ciTechCare, baseando-se num documento semelhante ao criado pela Associação Australiana de Ciências do Desporto. A informação apresentada baseia-se igualmente nas orientações da European Society of Medical Oncology, American Society of Oncology, Cancer Council e o American College of Sports Medicine.