Bernardo Gouvêa, presidente da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa, anunciou que a vaga de calor que se registou nos últimos dias provocou "perdas de produção total em alguns produtores de vinho da região de Lisboa”, sendo que os impactos foram diferentes consoante os concelhos e até o tipo de casta.
O nosso jornal contactou diversos viticultores do distrito de Leiria (que integram a Região de Lisboa) e percebeu que nesta zona as perdas também foram acentuadas, correspondendo a uma quebra de 30% a 40% da produção.
Na Companhia Agrícola do Sanguinhal, no Bombarral, Carlos Fonseca começa por sublinhar que o impacto concreto desta vaga de calor só será conhecida dentro de algumas semanas. No entanto, expõe, “observando as uvas que ficaram queimadas pelo sol e, pela experiência que tenho, estou convencido de que teremos quebras de produção de 30% a 40%”.
É de resto esta a quebra estimada pela maior parte dos produtores de vinho da sua região, salienta Carlos Fonseca. O empresário explica que a sua companhia explora 100 hectares de vinha. Desta área, cerca de 30 hectares são destinados a vinha nova, que não parece ter sido afectada pelo calor. Mas nos restantes 70 hectares, Carlos Fonseca estima uma quebra de 250 a 300 toneladas em relação ao ano passado, que foi de 700 toneladas.
Contas feitas, os prejuízos serão de 150 mil euros (se pensarmos apenas nas uvas), mas de 400 mil euros (se pensarmos nos prejuízos que a quebra de produção significará em vinho engarrafado).
“Uma vez que é raro assistir nesta região a grandes geadas ou granizo, e menos ainda a temperaturas tão altas, habitualmente não fazemos seguros para a vinha. E este ano também não fizemos”, realça o produtor.
Em Leiria, Luís Rosado, do Paço das Côrtes, ainda não sabe quantificar o valor do prejuízo, mas estima que a quebra de produção se situe em cerca de 30%. Em parceria com vários viticultores, a sua empresa gere 100 hectares de vinha e, directa e indirectamente, exporta 95% do que produz para mercados tão diferentes como Noruega, Polónia, Alemanha, Irlanda, Estados Unidos ou China.
Luís Rosado explica que os produtores com os quais o Paço das Côrtes tem parceria são detentores de seguros. O problema, nota o empresário, é que os seguros que têm não contemplam prejuízos que resultem destes excessos de calor, que são “situações anómalas” por estes concelhos. António Lopes, responsável pela Vidigal Wines, de Leiria, está apreensivo. A sua produção é feita a 70 quilómetros de Lisboa, entre Caldas da Rainha e o Cadaval, e no ano passado rendeu quatro mil toneladas.
Este ano, após a onda de calor das últimas semanas, o empresário estima uma quebra na produção de cerca de 30%. “Na Primavera, as chuvas e a humidade trouxeram pragas e foi preciso investir no tratamento da vinha. Este calor trouxe quebra de produção, e há um prejuízo [LER_MAIS] que advém do posicionamento da marca no mercado, ou seja, é esperado que a marca esteja presente com quantidade e qualidade. Quando não está, os prejuízos são de longa duração”, frisa responsável da Vidigal Wines, que exporta 86% do que produz para 40 países.
Campanha de Pêra Rocha também foi prejudicada
Domingos Santos, presidente da Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha, adiantou ao JORNAL DE LEIRIA que 10% a 20% da produção já está queimada. Mas o impacto total desta vaga de calor só se poderá contabilizar de futuro, à medida que se for percebendo como o calor afectou o crescimento da fruta que restou. Além disso, referiu, o seguro de colheitas para a pêra rocha não cobre o risco de escaldão provocado pelo sol. Recorde-se que, no ano passado, o sector produziu 200 mil toneladas de pêra. Cerca de 60% seguiu para exportação, para mercados como Brasil, Inglaterra ou Alemanha. À Agência Lusa, Domingos Santos referiu ainda que a expectativa da associação era que o sector atingisse até ao primeiro semestre de 2019, “os 100 milhões de euros de exportação”. Porém, a quebra de produção deverá impedir as