O consórcio Vale Hidrogénio Verde Nazaré (NGHV), que prevê investimentos de mais de 100 milhões de euros para produzir hidrogénio verde, espera iniciar a instalação da infraestrutura já no próximo ano.
A zona industrial da Marinha Grande e a Nazaré foram os locais escolhidos para a sua implantação.
Na zona industrial da Marinha Grande vai ser instalado um electrolisador, equipamento que “vai processar a separação dos átomos de oxigénio e de hidrogénio da água (sobretudo residual) utilizada na produção de hidrogénio e oxigénio verde”, explica ao JORNAL DE LEIRIA Manuel Ferreira, porta-voz do consórcio.
A energia que vai alimentar a instalação provém de um parque solar, a instalar na Nazaré.
Em Março, antes de deixar o Governo, o então ministro do Ambiente disse que a implementação desta central na Nazaré vai contar com um investimento de 5,8 milhões e apoios de 3,5 milhões de fundos europeus.
Manuel Ferreira explica que estes valores se referem “a uma parte do investimento total, garantido no âmbito de uma candidatura a um dos Avisos do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR)”.
O projecto NGHV prevê igualmente a construção de um total de 20 quilómetros de gasodutos. “A Rega Energy, líder do consórcio, será a proprietária da rede.”
Além desta produtora independente de gás renovável, fazem parte do consórcio empresas do sector do cimento e do vidro, “representando cerca de um milhão de toneladas de emissões de CO2 por ano, ou 10% das emissões totais de C02 da indústria em Portugal (2,5% das emissões a nível nacional)”.
São elas a BA Glass, a Cimpor, a Crisal, a Vidrala e a Secil. E também a empresa Águas do Centro Litoral, que “fornecerá parte da água para produção do hidrogénio e, num exemplo de economia circular, receberá oxigénio resultante da electrólise para o seu próprio processo.”
O NGHV inclui ainda entidades de investigação e outras relacionadas com os sectores envolvidos.
Manuel Ferreira adianta que a escolha da região de Leiria para instalar este green valley “justifica-se pela relevância do seu legado industrial”.
“A concentração de empresas industriais líderes, exportadoras, consumidoras intensivas de energia, que precisam de descarbonizar e que querem estar na linha da frente neste processo, foram um factor determinante”.
“Também porque encontrámos aqui um ambiente favorável ao investimento, que quer contribuir para a fixação e criação de emprego especializado, para o aumento das exportações da região, com bens de valor acrescentado – produtos baixos em carbono – fabricados em Portugal”, adianta.
O porta-voz do NGHV revela que o exemplo da Marinha Grande, e também de Coimbra, onde o projecto vai igualmente ser implantado, será replicado noutros green valleys no país, “para apoiar as empresas nacionais no cumprimento dos ambiciosos objectivos ambientais estabelecidos pela agenda verde da EU”.
Numa fase inicial, o consórcio pretende instalar uma potência de 40 MW, com o objectivo de chegar à meta de 600 MW, “fazendo do NGHV um projecto de referência na produção de hidrogénio verde”.
“Portugal tem uma história de sucesso nas energias renováveis, como na área do solar, por exemplo. Além disso, dispõe de mão-de obra-qualificada nas áreas da engenharia e da gestão, com experiência no sector energético, e um mindset orientado para a inovação. Portugal pode tornar-se na referência da indústria de baixo carbono”, sublinha o porta-voz do consórcio.
Por outro lado, “para descarbonizar em grande escala e de forma competitiva é essencial o recurso às oportunidades de financiamento disponíveis, quer por parte dos produtores de energia quer por parte dos consumidores industriais para adaptação dos seus equipamentos e processos produtivos”.
Refira-se que o projecto já recebeu luz verde do Plano de Recuperação e Resiliência.
“As oportunidades de financiamento a que os membros do consórcio se estão a candidatar servirão para acelerar a transição energética na indústria, permitido às empresas uma adaptação mais rápida para redução das suas emissões por via de diferentes soluções de descarbonização onde se inclui o consumo de hidrogénio verde”, explica Manuel Ferreira.
“Descarbonizar é um imperativo para a indústria. O investimento inicial estimado pelos membros do consórcio para esta transformação é superior a 100 milhões de euros, sendo expectável que cresça ao longo do tempo até que se atinja a desejável neutralidade carbónica”.
Para isso, “as empresas vão ter que adoptar, progressivamente, energias alternativas. Algumas vão ter que alterar processos e equipamentos, o que envolve investimentos e transformações operacionais igualmente significativas”.
“A descarbonização é um desafio europeu e mundial. Este projecto é transformacional para a indústria portuguesa e pode ser altamente escalável e replicável no País e internacionalmente”.
“Começamos por anunciar um projecto com uma dimensão razoável com potencial de rápida escalabilidade. Acreditamos que tem a dimensão certa no momento certo para Portugal enquanto referência na descarbonização”, adianta Manuel Ferreira.
“O objectivo do consórcio NGHV-Nazaré Green Hydrogen Valley é permitir uma descarbonização profunda e em larga escala da indústria nacional. Alguns sectores industriais não conseguem descarbonizar apenas pela via da electrificação dos seus processos, e a utilização de hidrogénio verde surge como a solução complementar mais adequada para substituição dos combustíveis fósseis”, explica o porta-voz.
“O hidrogénio verde pode ser incorporado numa mistura com gás natural, a qual poderá ser gradualmente enriquecida com quantidades crescentes de hidrogénio verde à medida que os equipamentos de queima o venham a permitir”.
“A queima de misturas mais ricas em hidrogénio verde possibilitam maiores reduções de emissões de CO2 e assim o alcance das exigentes metas de descarbonização”, acrescenta.
Hidrogénio verde
Descarbonização e estabilidade de preços
Para as indústrias pesadas como siderurgia, cimento, vidro, cerâmica e fertilizantes, “a electrificação total não é uma opção para garantir uma descarbonização profunda”. “O projeto de descarbonização em larga escala da NGHV traz vantagens competitivas ao consumo intensivo, não apenas pela descarbonização, mas também pela estabilidade do preço da energia”. Por outro lado, o hidrogénio verde que for produzido mas não consumido pelos beneficiários ligados fisicamente ao projecto poderá ser injectado na rede de gás natural e beneficiar outras empresas industriais para compensação das emissões decorrentes do consumo de energia fóssil, por via de certificados verdes de gás renovável.