Já não há paciência… para observar a liturgia de alguém que, ali mesmo à nossa frente, em slow motion, na caixa de supermercado, arruma a carteira como se estivesse a cumprir um exercício de ioga.
Detesto… ter de explicar às pessoas que sou um tipo a modos que tipo, benfiquista, sonolento, que gosta de recortar jornais e fumar charutos em silêncio. Não se nota logo?
A ideia… isso mesmo, a ideia. Continuo à procura. Testei várias e népia. Continuarei a escavar, qual garimpeiro de sei lá o quê. Pobrete mas alegrete.
Questiono-me se… conseguirei raspar as camadas de cinismo que ainda mantenho, apesar de já ter destruído boa parte do edifício.
Adoro… comer sardinhas na broa (fatia semi-grossa, fait attention), quantidade extravagantemente certa de azeite e indumentária barata a condizer: calção de banho e chinelo no pé.
Lembro-me tantas vezes… de um Rámon Allones que fumei há uns anos valentes. Horinha e meia de antologia. Esse sabor só regressa agora em forma de sonho, o cabrão.
Desejo secretamente… ter o temperamento do Eric Cantona, a voz do Neil Hannon e a escrita de Javier Marías.
Tenho saudades… de um bom linguado de 1995, 1996. Leiria vintage.
O medo que tive… quando a tensão arterial me encontrou na curva, saia curta, a meretriz. «Faço tudinho para ti», suspirou. Estamos juntos há vinte e dois anos. Sempre com altos e baixos, como qualquer casal. Habituei-me. Há vida piores.
Sinto vergonha alheia… sempre que oiço alguém perorar: «Não duvidem do meu profissionalismo!» Já do meu duvidem sempre: há muitos dias em que não faço a ponta de um corno.
O futuro… à carteira pertence.
Se eu encontrar… a Sophia Loren em Roma, ali por volta de 1964, não me acordem, por favor.
Prometo… está prometido. Quando a sociedade anónima Jesus e Vieira Lda. abrir falência converto-me ao veganismo. É peaners.
Tenho orgulho… muito mesmo. Nos meus pais. No meu filho. Achavam que eu não iria provocar um momento «O que dizem os teus olhos?», não achavam? Temos pena.