Como um corpo com múltiplas personalidades, o Serra dá-se a conhecer no Museu de Leiria a partir deste fim-de-semana e durante um ano.
Até ao Outono de 2022, estão previstas oficinas, conversas e quatro exposições que, segundo Hugo Domingues, manifestam várias formas de vida: o Serra “enquanto espaço de criação” e “casa de residências”, “o Serra antes de ser Serra”, porque as instalações, do Grupo Movicortes, em tempos acolheram outras actividades artísticas e não artísticas, e, ainda, “um Serra à frente”, que falta imaginar e materializar.
A música, a cerâmica, o têxtil, as artes plásticas, o vídeo e o design contribuem para Composto, Decomposto, Exposto – Processo, intervenção que pretende mostrar o Serra como um todo (o espaço localizado na Reixida e os artistas e criativos que nele colaboram, em que o todo é a obra) e projectá-lo como interveniente na criação artística em Leiria e como parte integrante da cidade.
Com a cafetaria do Museu de Leiria transformada em embaixada e montra do Serra na sede de concelho, a primeira exposição, Prólogo, que inaugura este sábado, 13 de Novembro, pelas 15 horas, explora, segundo Paulo Sellmayer “a narrativa do processo criativo e de produção dos residentes do Serra”, em que se incluem as bandas First Breath After Coma, Whales, Me and My Brain, Nice Weather for Ducks e Ayamonte Cidade Rodrigo, o músico Nuno Rancho, a produtora audiovisual Casota, a editora Vicara, a cooperativa Ccer Mais, os artistas plásticos Nuno Gaivoto, Leonardo Rito e Lisa Teles, as designers Teresa Gameiro e Vânia João, a tatuadora Inês Gonçalves e a ceramista Inês Bruto da Costa.
É uma “selecção de pequenos objectos que contam uma história, que vão para além daquilo que são”, por exemplo, um berbequim, um avental, um pedal processador de efeitos ou uma máquina de tabaco.
Nos próximos 12 meses, explicam Hugo Domingues (presidente da Associação Casa das Artes da Reixida, que gere o Serra – Espaço Cultural) e Paulo Sellmayer (director artístico da Vicara, editora de design que está no Serra), um dos objectivos é chegar ao que chamam “pares das artes” e revelar aquele ecossistema multidisciplinar como lugar para a criação, permanente ou temporário.
“O Serra, para além dos outputsartísticos, é um espaço de trabalho”, lembra Hugo Domingues. E é, também, mediador cultural, acrescenta Paulo Sellmayer. “Tem-no feito em associação com a ESAD, por exemplo, com a Ccer Mais, com outras editoras independentes que procuram um sítio para potenciar a sua criatividade”.
Em pano de fundo está a ideia de que “projectos como o Serra e outros” são importantes “para o desenvolvimento de uma cidade” e tornam Leiria “mais interessante” para viver e trabalhar.
“Haver espaços de criação é essencial”, diz Hugo Domingues. Por um lado, contribuem para fixar os agentes que emergem no sector da cultura, por outro, oferecem uma alternativa de evolução e modernidade. Ao mesmo tempo, conferem “uma voz mais coesa” aos artistas e criativos que a eles se associam.
Do próximo sábado em diante, Composto, Decomposto, Exposto – Processo traz ainda uma proposta para valorizar o rio Lis, cujo trajecto une o Serra e o Museu de Leiria.
“A cidade deve a sua existência a um monte algo inóspito, mas, sobretudo, ao rio, que liga toda a região”, conclui Paulo Sellmayer. É uma ligação “espiritual e física, mas também prática”.