Bitoque, alheira, feijoada, mão de vaca, destes e de outros pratos típicos da cozinha portuguesa se faz a história do restaurante Porto Artur, que agora entra numa nova etapa.
Os rostos familiares de Alzira Marques e Abel Lopes, ela geralmente no comando da cozinha e ele geralmente na gestão das mesas, afastam-se do projecto, que deverá prosseguir com novos donos, e, provavelmente, com a mesma designação comercial.
Por enquanto, há um intervalo na actividade, que não é um qualquer. Marca o fim de uma época, com a última refeição servida na sexta-feira, 30 de Setembro.
“A gerência deste estabelecimento, Abel e Alzira, comunica o encerramento do histórico restaurante Porto Artur, que, tendo aberto portas há mais de 50 anos, atravessou gerações”, lê-se na mensagem dirigida à cidade e afixada na porta principal.
“É um fechar de ciclo que merece, da nossa parte, um especial agradecimento a cada cliente e amigo que connosco conviveu, tornando, assim, os nossos dias mais leves e alegres. As amizades ficam e guardaremos apenas as lembranças e sensações boas que nos aconteceram”. E uma derradeira certeza: “Somos gratos por tudo o que vivemos aqui”.
Como tantos outros negócios entretanto transformados em restaurantes, o Porto Artur começou como taberna, onde se comiam petiscos.
António Marques, pai de Alzira Marques, vendia ao balcão o vinho que produzia nos Andreus. “Lembro-me da casa cheia, queria dar um beijinho ao meu pai e para furar entre os clientes não era fácil”, recorda ao JORNAL DE LEIRIA. A popularidade já vem do século passado. Maria Elisa Marques, mãe de Alzira, acompanhou sempre a evolução da actividade, e apesar da idade avançada, continuava, ainda hoje, presente para ajudar.
Talvez mais simpático e popular do que o casal Abel e Alzira, que vieram de empregos por conta de outrem para trabalhar a tempo inteiro no restaurante, e ali passaram de namorados a casados, só mesmo a mascote do Porto Artur, o boneco de bigode negro e uniforme branco.
A esplanada na Rua Rodrigues Cordeiro tornou-se uma imagem de marca do centro histórico, onde em dias, semanas e meses sucessivos, ao longo de anos, se reuniram gerações e profissões de todas as origens.
Talvez o encerramento do Porto Artur seja a mais inesperada das notícias, para quem frequenta os restaurantes tradicionais de Leiria. É, certamente, uma das menos desejadas. Resistiu a todas as transições, de regime político (da ditadura para a democracia) e de moeda (do Escudo para o Euro), entre outras que marcaram a vida de Leiria e do País, manteve-se mesmo nos momentos mais complexos para o sector da restauração, enquanto outros projectos, na mesma rua ou mesmo na porta ao lado, se substituíam sem êxito numa sucessão de aberturas e encerramentos.
Chegou à terceira geração. Os filhos de Abel e Alzira também sabem o que é trabalhar no Porto Artur. E conhecem a receita que a mãe evoca: “Empatia, simpatia e dinamismo”.
Levantada a mesa, uma última vez, é tempo de seguir em frente. “Precisamos de descansar um bocadinho, é tão somente isso. É uma decisão muito pessoal, de família”.