Mais fácil, certamente, do que a epopeia dos Descobrimentos portugueses, a nova edição do Cistermúsica, que celebra os 500 anos da circum-navegação, obrigou a equipa da Academia de Música de Alcobaça a dobrar uma espécie de cabo das tormentas para organizar e levar a bom porto o maior festival de música erudita do País, devido às restrições relacionadas com a crise sanitária.
Depois de um Cistermúsica, em 2020, só com artistas nacionais, por causa da pandemia, em 2021 regressa a programação internacional, com agrupamentos de Espanha, França, Argentina, Japão, Arménia e Coreia do Sul.
Apesar das limitações, a organização anuncia “a edição mais ambiciosa” da história do Cistermúsica, que abre esta sexta-feira (25 de Junho) e até 1 de Agosto oferece 40 espectáculos distribuídos por três eixos de programação – principal, famílias e outros mundos – acomodados sob o tema “Da Ibéria aos novos tempos”. Ou seja, a percorrer obras do passado e da actualidade, numa ponte que atravessa vários séculos.
Superado o colete de forças que a Covid-19 impõe, há óperas e concertos sinfónicos, recitais, música de câmara e coral, jazz, novo tango, música do mundo, dança contemporânea e outras actividades complementares, com a curadoria do festival a destacar a presença de “alguns dos melhores agrupamentos na área da música erudita a nível nacional e internacional”.
Josquin des Prez, Camille Saint-Saëns, Manuel de Falla, Stravinsky, Haydn, Tchaikovsky, Piazzolla e Pergolesi são compositores em revisitação no vigésimo nono Cistermúsica, que continua a explorar a simbiose entre a música e o património e acontece no Mosteiro de Alcobaça, no Museu do Vinho, no Cine-Teatro João d’Oliva Monteiro, no Mosteiro de Coz, no Parque Verde de Alcobaça e na Igreja Paroquial da Benedita.
Por confirmar, o que pode suceder a qualquer momento, mantém-se a programação fora de Alcobaça, que deverá percorrer Porto de Mós, Leiria e os mosteiros de Arouca, Lorvão e São Bento de Cástris, entre outros locais, num total de 10 espectáculos dos 40 que estão previstos.
“Nas últimas semanas, muitas coisas que estavam consagradas e que para nós eram evidentes ficaram em causa”, explica Rui Morais, director-geral do Cistermúsica, considerando que “é quase um milagre” concretizar um festival com semelhante qualidade e produção, porque, em contexto de crise sanitária, “os promotores têm um cabo das tormentas [pela frente] para assegurar a viabilização de espectáculos culturais”.
Certo é que, em 2021, o Cistermúsica retoma a dimensão nacional conquistada nos últimos anos. O concerto de abertura (25 de Junho, 21:30 horas) leva ao Mosteiro de Alcobaça Obras em Latim, de José de Baquedano, pelo grupo vocal e instrumental de música antiga La Grande Chapelle (Espanha), que estreia em Portugal um programa de música sacra escrita por José de Baquedano para a Catedral de Santiago de Compostela, proposta que repete no domingo, em Lisboa, na Igreja de São João Baptista do Lumiar. No sábado, no Mosteiro de Alcobaça e às 21:30 horas, apresenta-se o ensemble de sopros Lusitanus Ensemble, com Música do Século XXI, um alinhamento de obras encomendadas a compositores portugueses contemporâneos.
Os destaques do Cistermúsica em 2021 incluem o Nagash Ensemble da Arménia, a Gala de Homenagem a Mariella Devia, pela primeira vez em Portugal, a Orquestra XXI, a Orquestra Metropolitana de Lisboa, o quarteto de cordas Esmé, o recital de Jill Lawson e Luísa Tender, o ensemble Capella Sanctæ Crucis, o quinteto de sopros Gisba, a pianista Marta Menezes, o Ensemble Darcos, os solistas Carla Caramujo, Luís Rodrigues e Ana Ester Neves e o Alma Ensemble, entre outros.