Os Wu Tiao Ren são uma banda de indie folk considerada como uma das mais interessantes da actualidade na China e estiveram, na última semana, em residência artística no Serra – Casa das Artes, na Reixida, Cortes (Leiria), após tocarem na Casa da Música, no Porto, no domingo.
Ao longo destes dias contactaram com o ambiente musical de Leiria e com os artistas representados pela Omnichord Records, editora local.
Sábado, dia 7, à noite, passam pelo Atlas Hostel, em Leiria, para um concerto intimista, onde apresentarão temas do seu, recentemente lançado, quinto álbum de originais e do disco A Tale of Haifeng, de 2009, com o qual se tornaram num dos nomes da música indie mais importantes da China.
A banda dos cinco que são quatro
Amao e Renke que lideram a banda e cantam no dialecto de Haifeng, a sua cidade-natal, e em cantonês, eram vendedores ambulantes de CD dakou – – discos originais, mas de proveniência obscura, vendidos com a caixa rasgada. Os dois compravam os discos ao peso e para fazer negócio mas acabaram por se interessar pela música de Astor Piazzolla, Cesária Évora ou Tom Waits e, há 11 anos, criaram os Wu Tiao Ren, nome que significa, mais ou menos, "Os Cinco Gajos", embora sejam apenas quatro os elementos da banda. Aparentemente, os números são importantes fontes de bons e maus augúrios na cultura chinesa.
Manuel Correia da Silva, co-fundador e responsável pela produção do festival This is My City (TIMC), evento de promoção da música, do design, da arquitectura e das indústrias criativas em [LER_MAIS] Macau, que acontece desde há 12 anos naquela cidade do Oriente, é um dos responsáveis pela digressão portuguesa do colectivo chinês.
A ida dos Wu Tiao Ren para o Serra aconteceu fruto de conhecimentos e cooperação de agentes do mundo da música. "O TIMC tem como subtítulo Global Creative Network e acreditamos que, estando em Portugal ou na China, o interesse é estar ligado ao que se passa no Mundo. E essa ligação faz-se pelas pessoas. Já conhecia o Hugo Ferreira, fundador da Omnichord Records, porque integrei a banda Rollana Beat, que foi convidada da Rádio Universidade de Coimbra, onde o Hugo trabalhou durante muito tempo, e todo o desenvolvimento no mundo da música indie que Leiria tem mostrado ao País e no estrangeiro permitiram uma relação interessante entre a cidade e Macau que é uma localidade igualmente periférica", explica o responsável, vendo pontos em comum entre ambas as cidades.
Macau, porta para Leiria
Durante séculos, Macau foi a porta privilegiada de Portugal para o enorme mercado da China e poderá voltar a sê-lo para a música independente nacional. Ou pelo menos, para a de Leiria.
"É muito importante gravar com artistas de Leiria, para podermos, depois, levá-los para o nosso mercado. Em Novembro, quando acontecer o nosso festival em Macau e nas cidades de Zhuhai e de Shenzen, queremos incorporar, na programação, artistas de Leiria, mas ainda é cedo para revelar os nomes.
Acreditamos que a colaboração com os músicos que trabalham no Serra irá ser um cocktail interessante. Que- remos muito mostrar o produto de Leiria em Macau", avança o responsável pela produção do TIMC. Neon é o elemento dos Wu Tiao Ren que se certifica que nada se perde na tradução.
"É uma oportunidade única para podermos criar, além de tocar em palco. Pedimos desde o início que fosse possível um contacto com os artistas locais e acabámos por fazer uma espécie de jam session de um dia, com a Surma. A Omnichord Records, a editora dela, foi essencial para esse trabalho", diz.
Por estes dias, o som da banda chinesa bebe influência da No Smoking Band, de Emir Kusturica, e dos filmes Tempo de Ciganos e Gato Preto, Gato Branco, do realizador sérvio. A "culpa" é de Renke que é o apaixonado pelos acordeões cigano e francês.
"A namorada do Amao deu-me o acordeão dela e eu não desisti enquanto não aprendi a tocá-lo. Aprendi completamente sozinho", explica. O som dos franceses Les Têtes Raides e Mano Solo fazem também parte das suas influências.
"Estamos a acompanhar a tour por Portugal, com um fotógrafo e em modo documentário vídeo para registar tudo o que acontece. Leiria é a cidade onde estive- mos mais tempo e onde tivemos uma relação mais directa. Estivemos com os Whales e a Surma e ouvimos a música deles. Creio que sairemos daqui já com algumas canções novas. Pelo menos, o Amao, um dos nossos vocalistas, diz que andou a passear pela aldeia das Fontes e ficou inspirado pelo silêncio, pelas pessoas e até pelo facto de se poder esticar uma mão e colher uma maçã para comer. Coisas simples", explica Neon.
Depois de Leiria, passam pelo Musicbox, em Lisboa, e pelo Salão Brasil, em Coimbra. A digressão termina em Montemor-o-Novo, nas Oficinas do Convento, no dia 8.