Influenciados pelas bandas punk dos bairros do lado, como os Mentes Podres (conterrâneos da Marinha Grande), ou de paragens mais longínquas, como os Ratos de Porão (Brasil), em meados dos anos 90, um grupo de miúdos formavam os 605 Forte. Márcio Rios, baterista, voou há alguns anos para Macau, onde foi atrás do amor, constituiu uma família e passou a trabalhar. Mas nem o bichinho da música o largou, nem o nome dos 605 Forte saiu da memória dos fãs. Nem daqueles que os seguiam na Marinha Grande, nem daqueles que os conheceram a partir de Macau.
Márcio Rios foi nascer a Leiria a 12 de Fevereiro de 1979. Mas foi pelas ruas da Marinha Grande que cresceu o “amável” rapazinho que, tantas meiguices fazia aos pequenos seres, que acabou alcunhado de “mataratos”. O pequeno rebelde cresceu com o sonho de ser músico e de ter uma banda. E era tanta a vontade que tinha, que acabou por aprender sozinho a tocar bateria. “A vontade e o entusiasmo eram tão grandes, que bastou ficar a observar quem sabia tocar, e obviamente ouvir muitas músicas, para tentar fazer igual”, recorda Márcio Rios.
Corriam os anos 90 e, por essa altura, gritavam lá pela aparelhagem de casa os vocalistas de bandas como Nirvana, Sonic Youth, SoundGarden, Rage Against the Machine, Radiohead, Jesus Lizard e Ratos de Porão, com sonoridades que muito viriam a influenciar a sua batida.
Com Márcio Rios na bateria, Nuno (Sepultura) na guitarra, Ricardo (Xibanga) na voz e João (Morcela) no baixo, nasciam os 605 Forte. O “mata-ratos” já não se lembra exactamente se seria 1993 ou 1994 quando a banda foi constituída. O importante é que deixou marca. A seguir, ainda viriam outras. ManHateMan e amaniAct foram outros dos projectos onde Márcio Rios veio a tocar.
Boas memórias dos 605 Forte? Ui tantas… mas talvez uma das melhores tenha sido o início. No primeiro de todos os concertos, “tocámos tão rápido as poucas músicas que tínhamos, que houve pessoal que não teve tempo de subir as escadas do recinto para nos ouvir”, lembra o baterista.
Foram também memoráveis os concertos no bar Lado de Lá, na Praia da Vieira, os concertos nas colectividades da Marinha Grande, como os espectáculos do Império, da Ordem, da Embra, do Operário, na sede do PCP, ou na Storm Zone, em Leiria, enumera Márcio Rios.
“Curiosamente, sempre que se revive o passado e falo dos 605 Forte, é incrível que as pessoas, mesmo aquelas que não nos viram ao vivo, já ouviram pelo menos falar do nome. Interessante que isso também aconteceu aqui em Macau com pessoal que eu conheço. Mesmo passados mais de 20 anos, ainda se lembram”, realça o baterista.
Os autores da música Vou Fugir dissolveram o grupo em 1999, mas ainda voltaram a reunir-se anos depois no festival Remarinha.
Uma vez em Macau, onde Márcio vive há sete anos, surgiu a oportunidade de voltar a tocar: “a banda que criámos aqui é constituída por cinco membros, gente de Portugal, Austrália e Singapura”. A nova banda do “mata-ratos” chama-se FreeYogaMatts, flui entre o punk e o hardcore moderno e, mais dia, menos dia, terá novidades, conta Márcio Rios, que está agora em fase de masterização do EP.
A gerir um escritório na Ásia, e a dirigir uma família com um miúdo pequeno, Márcio conta que o seu tempo disponível é hoje muito limitado. Mas a música, essa continua a fazer parte do seu ADN. Aliás, o seu filho adora Nirvana e já é quase certo que também ele tocará algum instrumento, realça Márcio Rios.