Que balanço faz dos primeiros meses de actividade do Teatro Municipal de Ourém, reinaugurado em Junho após profundas obras de reabilitação?
Tem sido positivo, tendo em conta a resposta, em termos de adesão, que os vários públicos nos têm dado. Trata-se de um projecto que investe também na capacitação, no envolvimento e na mediação, através de propostas contemporâneas – afinal, o nosso tempo. Esta noção de serviço público permite criar uma oportunidade de valorizar as pessoas enquanto património fundamental e gerar melhores oportunidades sociais, de exercício da cidadania, dignidade social, capazes de gerar um impacto sem precedentes no território. Acrescentaria ainda nesta “receita” um factor agregador destes objectivos, que é a nossa equipa. Vai muito para além dos elementos da nossa ficha técnica, inclui vários departamentos da autarquia, cujo trabalho em volume e capacidade de adaptação tem sido enorme, e os nossos embaixadores, que são muitos mais.
O que proporciona ao Teatro Municipal de Ourém a adesão à recém-criada Rede de Teatros e Cine-Teatros Portugueses (RTCP)?
Confere-nos uma outra responsabilidade, quer local quer regional, e mesmo nacional, pois fazer parte de uma rede com uma determinada missão orientada para o serviço público obriga-nos a cumprir com as expectativas estratégicas definidas pelo programa. É de referir que concorremos ao patamar mais elevado de financiamento, o que demostra, mais uma vez, a aposta e ambição da autarquia. Teremos mais condições para contribuir para uma maior coesão social, cultural e económica do território. Também dará maior visibilidade ao sistema artístico, cultural e criativo local. Irá permitir, desde logo, um planeamento mais estruturado a médio longo prazo: partilha de experiências e casos de boas práticas; ajuda na resolução de problemas comuns, economia de escala na produção ou acolhimento de projectos artísticos em parceria.
Os teatros municipais da região devem trabalhar com base na mesma agenda para evitar sobreposição de datas e artistas?
Sim, parece de claro bom senso e a bem de uma adequada gestão de públicos do território. Em todo o caso, considero que ainda temos um longo percurso a fazer, para melhorar. Temos de ter consciência de que se gerirmos bem essa agenda de oferta cultural para a região, todos ganhamos.
Com mais palco para artistas locais?
Sim, com muito mais palco para artistas locais. Na minha perspectiva, essa também deverá ser uma das missões dos teatros municipais, a de desenvolver programas de acção junto dos agentes, das associações, das estruturas artísticas e culturais. No entanto, que não seja uma missão de só “dar palco”, porque essa rotina acaba por esvaziar e não criar espaço de crescimento. Assim, penso que devemos orientar os criadores, os artistas e as estruturas artísticas locais, numa perspectiva que lhes permita subir patamares e aumentar a possibilidade de novas experiências ou meios. Esse estímulo poderá ser, nomeadamente, no que concerne a apoio financeiro, mas também logístico ou técnico, com projectos conjuntos, experiências com outros artistas, integração em redes, parcerias, e até mesmo, uma componente de mentoring ou coaching. Os teatros municipais podem ainda ajudar à identificação de programas de financiamento que suportem a actividade desenvolvida, assim como apoiar na elaboração de candidaturas a programas no âmbito da cultura, turismo, ambiente, tecnologia, ou outros, que se verifiquem aplicáveis à actividade artística e cultural. Obviamente que, para isso, terão de existir recursos humanos habilitados e com experiência nestas áreas.
As câmaras municipais continuam a suportar boa parte da actividade cultural. Têm estruturas suficientemente profissionalizadas para acompanhar o investimento?
É verdade, as autarquias continuam a ser o elemento estruturante de investimento das políticas públicas na área da Cultura. Sobre as estruturas de programação, há ainda algo a fazer no sentido da descentralização das mesmas. As curadorias são uma parte do projecto de capacitação, mas, para além disso, os investimentos que são feitos na formação das estruturas locais, criarão indivíduos e associações que podem e devem crescer nos territórios, promovendo a sua maior autonomia. Existe ainda um problema premente quanto aos limites da contratação, por parte das autarquias, de curadores, programadores ou ainda técnicos especializados, nomeadamente, sonoplastas, luminotécnicos, directores de cena, frentes de casa, produtores, mediadores, entre outros. Trata-se de categorias profissionais que não se encontram previstas nos quadros de pessoal destas instituições públicas, os quais não estão adequados às necessidades dos equipamentos culturais. A isto, acresce um desfasamento de valores de remuneração entre os sectores público e privado, desequilibrando a oferta. Creio ser um dos grandes constrangimentos para a gestão de equipamentos tão especializados, pelo que a tutela terá de encontrar soluções, adaptações na lei, que ajudem as autarquias.
Como está o Teatro Municipal de Ourém a preparar 2022, face à realidade imposta pela Covid-19?
Em primeiro lugar, com responsabilidade, respeitando as directivas impostas pelo governo e autarquia. Em segundo, com muita expectativa e atitude positiva, embora cautelosos e conscientes que tudo pode mudar de um dia para o outro. Esperamos conseguir manter a casa aberta, pois a comunidade e os artistas bem precisam. Temos a programação delineada para 2022 com algumas propostas que, inclusivamente, já transportam para 2023, com alguns projectos muito impactantes e diferenciadores, que oportunamente iremos comunicar.