Muitos clientes do Âncora Azul, provavelmente, não o conheciam pela designação comercial. Ou, pelo menos, não o referiam assim. O restaurante na rua Dr. Adolfo Leitão, em São Pedro de Moel, é daqueles casos em que o nome do proprietário se torna tão importante como o nome do estabelecimento. Daí a homenagem, na reabertura, com nova gerência, prevista para este mês: o Âncora Azul passa a chamar-se Sr. João. Como já era, de resto, conhecido entre amigos.
Desde 1976, João Parreira e a mulher, Celeste, viveram na rotina de um negócio que existe na memória de várias gerações. Quase meio século, ele nas mesas, ela na cozinha. Crianças que ali comeram com os pais são agora adultos que levam os filhos ao lugar de sempre, um lugar que é sinónimo de férias e fins-de-semana, de reencontros e de rostos familiares.
Inclinada, como com pressa de chegar ao mar, a rua Dr. Adolfo Leitão é um trajecto frequente para quem vem de baixo, do areal. E o Âncora Azul, até fechar, em 2020, um destino para a cerveja do final da tarde. Na esplanada ou no muro do outro lado da estrada, a aproveitar os últimos banhos de sol.
“Saíamos da praia e parávamos aqui. E ao fim da noite também”, conta Rita Casimiro, que está à frente do projecto Sr. João. Natural de Alcobaça, passa férias em São Pedro de Moel desde a infância. Também ela se lembra do bife, a principal referência do Âncora Azul. “E o que toda a gente pede”. A antiga ementa, não só o bife, está a ser recuperada, porque um clássico nunca passa de moda. “São as receitas da dona Celeste, que era a cozinheira. Há um compromisso em que ela vem ensinar a fazer as coisas direitinhas”.
Obrigatório, o bife à portuguesa, com batata frita. Vai ser o Bife à Sr. João. Em alternativa, o Bife Café de Paris. A lista inclui peixinhos da horta, moelas, croquetes, rissóis, percebes, omeletes de camarão, de queijo de cabra e de banana, pregos e cachorros. Nas sobremesas, brigadeiros, bolo de bolacha, mousse de chocolate, queijadas e, de Alcobaça, as cornucópias.
Rita Casimiro traz a experiência de três anos a gerir um restaurante no Funchal. “E correu bem. Só que a operação era muito maior, não tinha tanta graça. E isto é uma coisa mais pequenina e mais familiar, dá para fazer coisas mais giras”. Conta com o apoio de Marta Galamba, enóloga, na elaboração da carta de vinhos. Outro colaborador é Vítor Gaspar, que esteve no início do Rosis na década de 70 e mais tarde ajudou a construir a história do Bambi.
No mesmo espaço do Âncora Azul, existia, anteriormente, antes de 1976, outro restaurante, de outros donos, com outro nome. Com a transformação em Sr. João, há uma parte de São Pedro de Moel que se renova. Os tempos são outros, mas às vezes é preciso que tudo mude para que tudo fique na mesma.