Quem se sentará no Trono de Ferro?

No campo de batalha, cavalaria, infantaria, armas de cerco, barcos de guerra e restantes forças militares tiravam meças umas às outras. Quem lançaria o primeiro tiro? A resposta era fácil, especialmente porque o combate iria decorrer num tabuleiro de jogo e não num verdadeiro campo de batalha.

A sorte estava lançada e seriam as fichas do Game of Thrones – versão jogo de tabuleiro, bem visto – a decidir o futuro dos seis jogadores sentados ao redor da mesa. Negociações, alianças e múltiplas traições, tudo vale neste “combate”, cujo objectivo é a conquista do Trono de Ferro, forjado a partir das espadas dos inimigos derrotados.

Tensão e nervosismo aparte, esta é apenas mais uma normalíssima noite de sexta-feira, no Centro Cívico de Leiria. Há mesas postas e a postos para quem quiser passar algumas horas em complexos e estratégicos jogos de tabuleiro. Esta não é uma actividade para os fracos de coração!

Escolher o que jogar é difícil: a ludoteca tem já cerca de 30 jogos disponíveis, tendo sido organizadas 140 sessões de jogos de tabuleiro, desde que o clube ali se formou, mas a da passada sexta-feira, 28 de Julho, foi especial e assinalou o início da 7.ª temporada da série televisiva que muitos fãs tem conquistado.

Dedicada à famosa produção para o pequeno ecrã e à colecção de livros As crónicas de gelo e fogo, que lhe deu início, levou 12 jogadores, seis à volta de cada tabuleiro, a vestir as cores e armaduras dos exército das famílias Stark, Greyjoy, Lannister, Baratheon, Tyrell e Martel… na verdade, nenhum deles foi vestido a rigor ou sequer embarcou em qualquer tipo de cosplay – actividade que consiste em encarnar, com acessórios e outros artigos, uma determinada personagem -, mas, nestas coisas, a imaginação é rainha e cada um é livre de deixar a criatividade à solta.

Mesmo não sendo fã da série ou da colecção de livros, mas se gosta de jogos de estratégia, ou se é fã dos livros da colecção As crónicas de gelo e fogo, de George R. R. Martin, vai, garantidamente, querer experimentar o Game of Thrones – The Board Game.

Este é um jogo com grande peso “psicológico” feito de escolhas e alianças. Em traços largos, o objectivo dos jogadores que tentam vestir a pele do bastardo Jon Snow, de Daenerys, a mãe de dragões “Nascida da Tormenta”, do sagaz e imprevisível Tyrion, da impiedosa e calculista rainha Cercei, do manipulador Petyr Baelish, o Mindinho, ou até do regicida Jaime Lannister é dominar os principais castelos de Westeros, o reino fantástico criado por Martin. Quem o conseguir sai vencedor.

Cada jogador domina uma das casas nobres principais da história, explica Micael Sousa, um dos nove fãs de jogos de tabuleiro, responsáveis pelo Clube de Boardgamers de Leiria. A conquista é feita através das tropas, dispostas no tabuleiro, e há ordens e acções destinadas aos territórios.

Estas podem ser para avançar com soldados, reforçar, defender ou desenvolver o território, e, com o desenrolar da dinâmica do jogo, constróise uma história. “Podemos dizer uma coisa e fazer outra”, afirma Edgar Bernardo, outro dos membros do clube.

E, para os jogadores, é isso que torna este jogo tão desafiante. “Não dá para jogar sozinho. Não é possível definir um plano ou uma estratégia de jogo porque é sempre imprevisível”, diz, sublinhando a proximidade com a narrativa da série televisiva. “A qualquer momento alguém pode morrer, alguém é apunhalado e alguém é traído.”

Após quase cinco horas de jogo, a história que se desenrolou ficou na memória de cada um dos jogadores, tal como já anteriormente acontecera. “Ainda nos recordamos de um jogo de há dois anos: de quem traiu quem ou da pessoa que achávamos que nunca mentiria.”  E neste jogo, que se iniciou com os Baratheon no Trono de Ferro, os vencedores foram…  os Tyrell. [LER_MAIS] 

A luta foi entre os Stark, os Greyjoy, os Lannister, os Baratheon, Tyrell e os Martel representados, respectivamente, pelos jogadores Micael Sousa, Edgar Bernardo, Pedro Sousa e Silva, Anthony Weaver, Luís Serra e André Goucha.

Cinco horas sem modo acelerado

Façamos uma visualização em fast foward do jogo. Os Stark aliaram-se aos Greyjoy, estabelecendo fronteiras a sudoeste, enquanto obtinham permissão e concordância do Baratheon para um ataque a Eyre, capital dos Cavaleiros do Vale.

A proximidade entre estes aliados não impediu que as casas nobres entrassem em guerra quando as suas ambições expansionistas colidiram. Os Greyjoy acabaram por vencer. Enquanto isso os Baratheon consolidavam o poder, na capital de Westeros, Kings Landing.

Os Lannister, tendo estabilizado a fronteira com os Greyjoy, mediante acordo de não agressão, apostaram num ataque por mar contra os territórios dos Martel, que conseguiam manter o seu território mas perderam o domínio nos mares do sul.

Tendo sido reprimidos no centro de Westeros pelos Greyjoy, que consolidaram e estabilizam os seus territórios, usando a aliança com os Stark, os Baratheon viraram as suas atenções para sul e atacaram os Tyrell, provavelmente no reacendimento de um conflito antigo.

Entretanto, os Martel pareciam ausentes dos grandes conflitos a norte mas, ainda assim, tentaram recuperar o controlo dos mares do sul, sem ganhos territoriais relevantes.

A guerra entre os Baratheon e os Tyrell foi longa, até que os Tyrell, sempre suportados pelos Lannister, conseguiram conquistar Kings Landing aos Baratheon. Foi por pouco que estes não conseguiram conquistar o número suficiente de castelos e tornarem-se senhores indiscutíveis de Westeros.

Após um período longo de estabilidade e convivência,os Greyjoy atacaram os Lannister e tomaram um dos seus mais impressionantes territórios de fronteira. Os Lannister sentiram-se ainda mais impotentes em conseguir lutar por si pelo domínio do Westeros.

Enquanto isso, os Stark foram acumulando força e recursos, mas sem tomar partido nas batalhas que ocorriam a sul, apesar de estarem atentos a oportunidades de expansão. Os Lannister conseguiram recuperar as terras aos Greyjoy, enquanto os Martel continuavam a tentar recuperar os mares dos sul aos Lannister mas sem sucesso.

Os Greyjoy conseguiram dominar os mares oeste e desencadear um grande ataque a Casterly Rock, mas falham, num desenlace azarento pouco previsível, apesar da força de ataque superior.

Os Stark finalmente atacaram os Baratheon na tentativa de abrir caminho para fazer frente aos Tyrell que, com os seus aliados Lannister, ameaçavam dominar Westeros. Foi a maior batalha da história do reino, onde só os Martel não participaram.

Os Lannister e os Tyrell ficaram receosos deste avanço e apoiaram os Baratheon. Os Greyjoy mantiveram-se aliados e apoiaram os Stark. Os Stark venceram e ficaram perigosamente perto de Kings Landing mas, pouco depois, voltaram a ser expulsos pela coligação dos Tyrell, Lannister e Baratheon.

Mais ou menos por esta altura, ocorreu um ataque massivo de Selvagens (Wildings) no lado norte da Muralha de Gelo, mas os senhores das casas nobres de Westeros tiveram força mais do que suficiente para os contrariar e esmagar.

Os Baratheon ocuparam sempre o Trono de Ferro, mesmo quando o seu poder efectivo começou a declinar. No final, os Tyrell não teriam vencido sem a ajuda indispensável dos Lannisters, sem os quais não teriam conseguido manter tantos castelos na rota final do jogo.

Na mesa ao lado, outros seis jogadores lutavam também pelo Trono de Ferro e, também aí, os Tyrell venceram o jogo.