“O sector TICE em Leiria encontra-se ainda numa fase inicial, sendo necessária a construção de alicerces que viabilizem o seu desenvolvimento. As empresas têm pequena dimensão, e deverão colaborar por forma a crescer no mercado doméstico e internacional”.
Esta é a principal conclusão de um estudo da Associação Empresarial da Região de Leiria, apresentado no ano passado, que reforça a ideia do potencial que a região tem para formar um cluster TICE.
Segundo dados da Informa D&B, existiam no distrito, em 2017, 528 empresas deste sector, que davam emprego a 2455 pessoas (o número médio de trabalhadores por empresa é de 4,6).
O volume de negócios total gerado por estas empresas no ano passado foi de 194,3 milhões de euros. O volume de negócios médio de cada empresa ronda os 368 mil euros, sabendo-se que há empresas cuja facturação ficará abaixo deste valor e que outras facturam milhões de euros.
De acordo com os dados daquela consultora, o Valor Acrescentado Bruto (VAB) gerado pelo sector no distrito de Leiria no ano passado foi de 76,1 milhões de euros. Das 528 empresas, 130 são exportadoras. O volume de exportações atingiu os 77,8 milhões de euros.
Em Fevereiro de 2016 foi criado na Nerlei (envolvendo também o Politécnico de Leiria e várias empresas) o grupo TICE Leiria, com o objectivo de desenvolver na região um eco-sistema favorável ao desenvolvimento do sector, permitir o crescimento das empresas existentes, proporcionar o aparecimento de novas startups tecnológicas e atrair empresas e profissionais desta área para a região.
“Este é um sector que não está habituado a trabalhar em conjunto. Porque as empresas são maioritariamente regionais e disputam o mesmo mercado. As cinco ou seis maiores empresas da região são todas concorrentes”, aponta António Poças, presidente da inCentea, um dos membros do grupo.
Várias iniciativas têm sido promovidas pelo grupo, nomeadamente tertúlias para discutir os mais diversos assuntos. Na primeira, a constatação de que a segurança informática era uma matéria que preocupava as empresas levou a que cinco empresas (inCentea, HES, Trigénius, Alidata e CPS) se juntassem para apresentar uma candidatura a um programa específico para levarem a cabo auditorias junto dos seus clientes.
“Este trabalho já está no terreno. No total, serão feitas 50 auditorias. Isto só foi possível porque as empresas se juntaram. Seria difícil cada uma por si só conseguir este número de clientes interessados neste serviço”, aponta o empresário. “Por se terem associado, as empresas poderão facturar até 500 mil euros, no conjunto, com este projecto”.
António Poças conta que numa reunião do grupo TICE se falou da ideia de levar para o topo norte do estádio um espaço de escritórios de qualidade, onde as empresas pudessem instalar-se. Envolveu-se a direcção da Nerlei e do Politécnico, depois foi criado um grupo de trabalho, o processo avançou, “e já está no orçamento da Câmara, já foi feito um concurso público de ideias e há três candidaturas” para o projecto de arquitectura.
[LER_MAIS] O sector das TICE é “muito abrangente e abarca realidades diferentes”, visto que tanto inclui grandes empresas – umas especializadas em programas para a indústria de moldes, outras especializadas no desenvolvimento de programas de facturação e de apoio à gestão -, como startups tecnológicas e empresas meramente comerciais.
“Os desafios são muitos. O maior, para todas as empresas, é a questão dos recursos humanos”. Não se encontram pessoas qualificadas e requalificá-las nem sempre é fácil. “De forma geral, as empresas não têm capacidade para estar dois anos a investir na formação de uma pessoa e correrem o risco de, depois, ela ir embora passados seis meses”.
Os profissionais das TICE são actualmente dos mais requisitados pelo mercado. “Estamos a falar nomeadamente de licenciados em engenharia informática e electrotécnica”, para trabalhar seja na parte do software seja do hardware. Com o desenvolvimento da IoT (internet of things), os profissionais ligados à área de segurança informática farão também cada vez mais falta, diz António Poças.