O sítio arqueológico do Abrigo do Lagar Velho, no Lapedo, em Leiria, onde em 1998 foi encontrado o esqueleto do “Menino do Lapedo”, “não está em risco”, assegura o director-Geral do Património Cultural.
As declarações João Carlos dos Santos, proferidas esta manhã em Leiria, à margem da assinatura do protocolo para criação de um programa de interpretação e comunicação para o vale do Lapedo, contrariam uma das arqueólogas responsáveis pela escavações no local.
Num artigo publicado esta segunda-feira, no jornal Público, Ana Cristina Araújo revela que “a pala que servia de tecto ao Testemunho Pendurado, no sector mais rico do posto de vista científico e patrimonial, colapsou, arrastando sedimentos e as ocupações arqueológicas ali contidas, perdendo-se um perdendo-se um património único e irrepetível”.
Hoje, em declarações aos jornalistas, o director-geral do Património confirmou que, em Dezembro de 2022, “houve uma parte da escarpa que caiu” e que o organismo que tutela está a “a monitorizar” e “a aguardar”.
“Neste momento, não há uma conclusão absoluta sobre o que aconteceu. Estamos a aguardar”, disse João Carlos dos Santos, assegurando, contudo, que o sítio arqueológico “não está em risco”.
Segundo o responsável da DGPC, já houve uma primeira intervenção, escorando “dentro do que é possível numa escarpa que pesa toneladas”, mantendo a monitorização. “Temos de avaliar com calma o que se pode fazer, reconhecendo que é uma escarpa, onde é muito difícil actuar”, salienta.
Para já, e como lamentou a arqueóloga Ana Cristina Araújo, em artigo assinado no jornal Público, o sítio arqueológico continuará fechado. No texto, a investigadora, que é técnica da DGPC, corresponsável pelas escavações no Lapedo nos últimos anos, denunciou que “o portão do Abrigo do Lagar Velho fechou-se ao público por total inoperância e desleixo da DGPC”.
A arqueóloga apontou o dedo “à quase indiferença da DGPC” ao que tem acontecido ao sítio do Lapedo, aguardando “há mais de quatro anos” resposta aos “inúmeros pedidos de intervenção para salvaguardar o património precioso que se encontrava ali em iminente risco de destruição”.
Sobre o protocolo assinado hoje, para a constituição de um grupo de trabalho incumbido de apresentar um programa de valorização e comunicação para o Vale do Lapedo, Ana Cristina Araújo diz tratar-se de“uma fraude, uma hipocrisia, uma farsa impossível de ocultar”.
“Enquanto o sítio se ia degradando por falta de atenção e ausência de resposta da DGPC, esta entretinha-se, durante um ano, a escrever um protocolo”, hoje assinado no Museu de Leiria, para interpretação e comunicação do sítio, “à revelia dos seus responsáveis científicos, esquecendo as mais elementares regras que gerem a ética profissional, a boa educação e o respeito pelo outro”, acusou a investigadora, no texto que assina no Público.
Presente na cerimónia, o ministro da Cultura minimizou as críticas, preferindo destacar o passo dado agora com a criação da equipa, coordenada pelo director do Museu Nacional de Arqueologia, António Carvalho, e da qual fazem parte o arqueólogo João Zilhão, o escritor Gonçalo Cadilhe e a arquitecta paisagista Aurora Carapinha.
“Tão importante como conhecer – e há aqui décadas de investigação e de conhecimento – é dar a conhecer esta realidade do ‘Menino do Lapedo’ e o significado que ela tem para nós hoje”, afirmou o ministro Pedro Adão e Silva.
Seria o presidente da Câmara de Leiria a responder às críticas. “É natural que haja sempre quem ache que o caminho devia ser outro. Nos dias de hoje é muito normal, porque por tudo se cria conflitos. Vivemos neste combate completo. Vamos trilhar este caminho e no final será avaliado e criticado. É perfeitamente extemporâneo criticar uma coisa que nem sequer começou”, respondeu Gonçalo Lopes, anunciando que o município pondera a aquisição de terrenos de interesse arqueológico no vale do Lapedo, hoje na posse de privados.
Equipa de trabalho vai apresentar propostas de valorização do Lapedo
Conceber, estruturar e propor um programa de interpretação e comunicação para o Vale do Lapedo é a missão do grupo de projecto, criado no âmbito do protocolo assinado esta segunda-feira, entre a Câmara de Leiria e a Direcção-Geral de Património Cultural. Segundo o protocolo, aprovado, a equipa irá elaborar um “programa de interpretação e comunicação”, a entregar até ao próximo dia 28 de Abril. O grupo de trabalho apresentará propostas de intervenção ao nível, por exemplo, da “fruição do espaço, tendo como base a sustentabilidade e a preservação do espaço, que é singular e único”.
O programa incidirá também sobre a requalificação do Centro de Interpretação do Abrigo do Lagar Velho, criado em 2008, e a valorização e protecção do sítio onde, há 25 anos, foi encontrado o Menino do Lapedo.