“Esta casa era da mãe de um tio do meu avô”, conta João Tavares. Feitas as contas, a Taberna do T’Izelino já soma uns 200 anos de história. E, por isso, deixou de ser apenas um espaço com uma excelente vista sobre o mar, onde se come marisco bem fresco, para se tornar também num cantinho emblemático, que testemunha e reconta episódios de uma vida difícil, de quem pouco ou nada tinha, na pequena vila da Nazaré.
Originalmente, este imóvel juntava de um lado uma mercearia e, do outro lado, a taberna. Por cima, ficava uma habitação. E sempre foi um edifício mantido nesta família, gente deste concelho, realça João Tavares.
De um lado, vendia-se desde o açúcar à farinha a granel. Do outro, serviam-se copos de vinho. E era também naquela loja que se vendia material de pesca para gentes de toda a parte. A família tinha uma fabriqueta de fio de algodão, para as redes, e ali se comercializava desde fio, canas e carretos. “Até dos Açores vinham aqui comprar”, relata o actual proprietário.
Uma das particularidades desta casa está na sua vizinhança. A escassos 30 centímetros de distância, já depois de ter sido construída a taberna, havia de nascer a Igreja de Santo António, [LER_MAIS]com a qual a relação foi sempre de grande proximidade, embora nem sempre de concórdia.
“O padre até confiava a chave da porta ao meu avô, para ser ele a abrir a igreja. E o meu avô chegou a vender velinhas para os devotos lá acenderem”, conta João Tavares. Mas houve períodos, nas décadas de 40 e 50, “tempos em que o poder da Igreja era imenso”, que o padre lhe pediu para encerrar o negócio durante as missas. “Mas ele nunca deixou de abrir a taberna por causa disso”, salienta o neto.
Quando João Tavares assumiu o leme deste negócio, há cerca de uma década, fez de tudo para o preservar e manter a identidade de sempre. Com base nas fotos antigas refez os móveis tal como eram. O chão é o mesmíssimo. “Azul, branco e amarelo. É mosaico hidráulico e já nem se produz. Era feito à mão, com pigmentos trazidos do Norte de África, prensado, lavado em tanques e deixado a secar ao sol”, especifica João.
Todo o espaço está decorado com fotos antigas da taberna, dos pescadores, das mulheres, da vila. E há artefactos peculiares, como um colete salva-vidas, que pertenceu a um antigo submarino, naufragado na Nazaré durante a Segunda Grande Guerra.
O comandante do submarino alemão, um jovem com 23 ou 24 anos, não se quis entregar. Enviou os marinheiros para terra, em barcos de borracha, e naufragou propositadamente a embarcação, relata João Tavares.
“A vida era toda feita aqui em frente, na praia. E assistia- se a muitos a naufrágios.” Incidentes que “tiravam a vida a muita gente”. E quando não se pescava, ficava-se em terra e sem dinheiro para nada. “Havia muito fiado”, lembra o proprietário desta taberna que orgulhosamente lhe sente o significado.
“Agora metem o nome de taberna a qualquer coisa que abre. Mas esta é mesmo uma taberna com história”, certifica João Tavares. Por aqui, conta o proprietário, ainda imperam os petiscos com tudo vindo do mar. Ameijoas, berbigões, camarões e mexilhões são algumas das suas especialidades. “Tudo fresco e feito no momento”, realça João.