O festival A Porta começa já no próximo domingo, 11 de Junho, prometendo, para os dias 15 a 17, uma experiência musical ímpar, da Sé de Leiria até ao Terreiro, unindo todos os que passam pela “avenida” direita.
No dia 18, todos os caminhos levarão ao jardim da Vala Real, com a animação a seguir, noite dentro, na Stereogun.
Há nove anos, na primeira edição d’A Porta, as fachadas, as varandas, oreiras e recantos da zona histórica lavaram a cara.
Sopraram o pó, tiraram as teias de aranha por um dia, e deixaram-se pintar e transformar pelos maquilhadores de serviço, a Meia Dúzia e Meia de Gatos Pingados, o primeiro colectivo a organizar o evento que prometia soprar nova vida na rua direita – Rua Barão de Viamonte – e no centro histórico de Leiria.
Oito temporadas e uma pandemia passada e já com a equipa da Casota Collective aos comandos, redobram-se os esforços para fazer cumprir a promessa de dar vida à rua direita e a outras zonas.
O Manel dos Filipes, uma das figuras mais conhecidas da cidade e, além de ser uma das caras da promoção mediática d’A Porta, aproveita os dias do evento para entrar no espírito da festa.
“É um acontecimento que, hoje, marca o ano”, refere.
O filho, Filipe, que é outra cara conhecida do Terreiro e dos Filipes, o mais famoso bar da cidade, não esconde o entusiasmo e recorda o grupo de “miúdos”, com Gui Garrido na liderança, que, em 2014, agarraram a ideia de “escancarar a porta da rua direita” às artes, animação e música.
“Foi bom para a cidade, foi bom para a cultura, foi bom para o tecido empresarial, pois traz muita gente de outros pontos do País e isso signica mais horas de trabalho para os bares e restauração.”
Do Terreiro e dos Filipes até à Tasca 7 são meia-dúzia de passos.
Transposta a entrada, encontramos outra das personalidades que dão vida a Leiria, a sempre enérgica dona Estrela.
Este ano, no dia de maior animação do festival, a Tasca 7 só abrirá a porta a um grupo de amigos próximos.
Os tempos estão cada vez mais difíceis e a idade não ajuda, diz Estrela Albuquerque.
“Para o ano, quando me reformar, vou ter de mudar o modelo de negócio”, lamenta.
Tempos menos bons aparte, recorda com saudade as edições onde o evento Casa Plástica, d’A Porta, se realizou no prédio em frente, na antiga casa de trabalho onde as meninas aprendiam a bordar e a pintar, antes de este ter sido requalicado.
“As pessoas da organização d’A Porta até cá vinham buscar comida!”
Ao lado, a irmã, Ana Pires, adianta que a realização das exposições e momentos artísticos criativos do festival na Casa Plástica, devolveu ao espaço um papel que já fora seu.
“A Porta trouxe um certo gosto por esta zona da cidade. Fora isso, está tudo muito parado, em especial ao domingo. O centro histórico de Leiria está muito esquecido e não consigo deixar de o comparar com o de Guimarães, que tem muita vida, seja qual for a altura do ano que o visitemos!”
Mais meia-dúzia de passos e achamos a porta da mais cultural e musical das mercearias portuguesas, que, além de instrumentos e equipamentos musicais, até vende produtos de mercearia!
O dono, o “senhor Ferreira” para os amigos e Manuel dos Santos Ferreira para todos os outros, acaba de chegar de uma aula de História, na Universidade Sénior, ali mesmo ao lado.
“Estou atrasado para abrir a loja!”, confessa.
É dele um dos três estabelecimentos de comércio mais antigos do centro histórico de Leiria.
“Os festivais são sempre bons. Não me importa se vendo muito ou não. Gosto de estar com os amigos e conhecidos”, resume.
Já o responsável pelo Espaço Eça, afirma que “o centro histórico está quase morto” e A Porta faz uma espécie de respiração boca-a-boca com gente de outros pontos do País.
Luís Ferreira entende que Leiria aposta demasiado “nos eventos de consumo interno”.
“Quem é que Leiria cá quer? Qual é o objectivo? Quer eventos desorganizados todos os fins-de-semana? Portugal atingiu este ano o pico do número de turistas e não se vê nenhum cá”, diz e sublinha a necessidade de acolher eventos de dimensão nacional diferenciadores, “como A Porta ou o Há Música na Cidade, que trazem gente que vem de Coimbra ou de Braga a passar um fim-de-semana”.
Entre a Sé o Terreiro